Trata-se do resumo documental elaborado pelas especialistas da Iniciativa Feminista Cartagena para a Conferência sobre Financiamento para o Desenvolvimento (CFD) que se realizou em Monterrey (México). Esse documento é uma resposta em relação às questões de gênero que ficaram omissas na CFD. Acrescenta que os discursos atuais sobre desenvolvimento perpassam sobre as questões de gênero, já que as mulheres ainda sofrem preconceitos na sociedade. Indica que a CFD deve refletir sobre que tipo de desenvolvimento se almeja alcançar, já que não há discussão ou questionamento sobre as questões de gênero. Delata que é impossível almejar uma sociedade justa e democrática quando se tem a desigualdade entre os gêneros com relação à participação política, a divisão de poderes e as oportunidades no de trabalho. Não se obstem de mencionar que entre homens e mulheres existem potenciais diferentes e cada qual mantendo as suas qualidades, porém essas diferenças devem ser aproveitadas para unir forças; para somar nas decisões e não para excluir ou discriminar.
Indica que o Segundo Fórum Social Mundial (FSM) deve como lema “Um outro mundo é possível”, que ocorreu na cidade de Porto Alegre nos dias 31 de Janeiro a 5 de Fevereiro. O título desse Fórum parte da premissa de que, reunido o maior número de pessoas de diversos locais do planeta, poderá apresentar alternativas mundiais para combater o atual modelo de globalização. Lembra que o Fórum Social Mundial foi impulsionado a partir das manifestações ocorridas em Seattle, em 1999 nos EUA e está patrocinada por oito entidades: Abong; Attac; CBJP da CNBB, Cives; CUT; Ibase; MST e Rede Social de Justiça e Direitos Humanos. Lembra que os representantes da globalização neoliberal visam somente o lucro através do mercado e do capital. Ao contrário da visão em que tudo tem seu preço, o F S M inspira a idéia de que nem tudo é mercadoria e a população deve decidir sobre o seu destino. Acredita que para construir um novo mundo é preciso lançar sementes para que brotem homens e mulheres com novos valores éticos, diferentemente dos propostos pela elite de banqueiros e empresários multinacionais.
Percebe-se que devido às estruturas das sociedades patriarcais e fundamentalistas ainda persistem o desrespeito e a discriminação aos direitos das mulheres, mas que com muito esforço elas têm conquistado avanços e aquisição na vida pública. Entende que o princípio de igualdade tem que ter as seguintes características: (i) o direito das mulheres deve estar na mesma condição para participarem do poder público-político; (ii) dar o direito às mulheres de trabalharem sem que haja discriminação por seu estado civil ou o número de filhos que tenham e que o salário que irão receber seja igual aos dos homens quando ambos fazem as mesmas tarefas e (iii) contribuir para que o Estado promova a democratização das responsabilidades domésticas para que as mulheres não tenham dupla jornada de trabalho. Declara que as mulheres vão continuar lutando para que as políticas públicas reconhecem os direitos delas e assim acabe com a hierarquia do poder e dê oportunidades as mulheres urbanas, como as que habitam as zonas rurais.
Denuncia que a crise social pela qual vem passando o mundo é fruto da má distribuição dos bens que privilegia a minoria rica em detrimento a maioria pobre. Delata também que o planeta Terra está sendo ameaçado em seu equilíbrio ecológico, logo é necessário o diálogo com todos os povos sobre as perdas que se está ocasionando para a humanidade para garantir o direito à vida de cada cidadão. Por isso, deve-se pensar globalmente e agir localmente para que se mude a postura do ser humano de ler e de agir perante o mundo. Constata que na atualidade tornar-se-á possível à convivência humana no momento em que estiverem estruturados valores e atitudes que abarquem um ethos universalmente válido que proporcione a paz entre os povos e entre as religiões e que ambos possam conscientizar que a preservação da vida é obrigação de todos. Contudo, observa que é crescente cada vez mais a consciência de que é preciso ser solidários para a sobrevivência, já que todos possuem sofrimentos e esperanças comuns
Chama atenção para o fato de que a questão da violência e do racismo no Estado do Rio de Janeiro tem uma associação muito peculiar entre si, até porque quando se fala de racismo, mesmo considerando toda a sociedade brasileira, se constata que ele não está distanciando da violência, mesmo considerando os estudos elaborados acerca da violência, verifica-se que o tema sobre as relações raciais não entra em pauta. Por sua vez a sociedade brasileira ainda insiste em combater a violência com os meios tradicionais de repressão ou combate-se à violência com mais violência. Sabe-se que no Brasil a cidadania é trabalhada de maneira negativa; quando a elite brasileira percebe que está havendo uma participação com maioria dos cidadãos ela utiliza práticas que dificultam o acesso dos mesmos na tomada de decisões. Denuncia que a separação entre discriminação racial e discriminação social é uma razão inútil que tenta camuflar o preconceito racial ou se esforça para mostrar um só lado.
Considera que repensar a educação popular é tentar compreender qual o seu verdadeiro papel na atualidade. Isso porque vem crescendo de maneira considerável a pobreza e com ela o número de excluídos eleva-se na mesma proporção, fazendo com que cada vez mais percam seus direitos, entre os quais o de terem acesso à educação. Entende por Movimento de Educação Popular Integral aquela que elegeu o segmento da sociedade constituída de pobres e que é de sua responsabilidade, como exercício da cidadania, promover a cultura da não violência que é indispensável para a convivência social. Essa aprendizagem se dá combatendo todo e qualquer tipo de discriminação, de fundamentalismo, de dogmatismo e de intolerância. Afirma que dentro da perspectiva da educação popular o mais importante não é aprender a ler e compreender a realidade: é preciso transforma-la para melhor. Assim, a aprendizagem deve ser de cunho permanente, inserindo em seu contexto valores essenciais e necessários que possibilitem uma vida digna em prol de todos.
Assegura que a conscientização de identidade nacional possibilita ao indivíduo se relacionar com os outros enquanto os seus iguais. E é importante na medida em que proporciona uma ação educativa que possibilita superar a perda da identidade que é tão comum na América Latina e no Caribe. Como a identidade nacional está vinculada as pessoas e aos povos, ela está integrada à temática dos direitos humanos. Assim, o fortalecimento e um olhar mais aguçado nos direitos humanos possibilitará o desenvolvimento da identidade a partir de distintas nuances. Aprecia a literatura como a expressão estética/verbal que divulga de maneira apropriada à identidade de uma nação, já que representa o mundo interior, as emoções e os sentimentos dos indivíduos, apontando para os seus problemas e esperanças, sem deixar de lado a sensibilidade, a musicalidade e a criatividade figurativa, fazendo ouvir as multiplicidades de vozes que expõe e discutem sua identidade.
Explana que a ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) intenciona o processo de integração da América Latina e do Caribe, mas que é um projeto neoliberal com os moldes do Tratado de Livre Comércio estabelecido pelos países da América do Norte e da Europa para liberar e favorecer a intervenção estrangeira. Assim, a ALCA só irá favorecer os oligarcas, aumentar a concentração de riqueza e incrementar as condições de miséria dos povos da América Latina e do Caribe. Observa-se que os governantes “pró ALCA” estão mais preocupados na privatização dos serviços públicos e com a restrição dos direitos democráticos e pouco se importando com os prejuízos que poderá acarretar a população. Lembra que a Convergência de Movimentos dos Povos das Américas está construindo alternativas para combater a política neoliberal em todo o continente americano, sendo que a formulação dessas alternativas inclui propostas e práticas democráticas e pluralistas de homens e mulheres dos diferentes movimentos sociais para a construção de uma nova sociedade.
Esclarece que as declarações de direitos humanos estão inseridas no direito positivo, entendendo que tal direito não está limitado somente a juridicidade, mas no reconhecimento dos direitos à liberdade, dos direitos sociais e a participação democrática por parte todos. Explica que o respeito à vida só acontece quando os direitos humanos (DDHH) são acatados, pois é a partir deles que se pode considerar o ser humano como um ser livre. Não se deve caracterizar os DDHH exclusivamente a partir da ótica de direitos fundamentais, mas, sobretudo, o seu lado jurídico-moral, quando assim não se procede perde-se o senso crítico. Conclama a todos que resistem o imperialismo cultural estimular nas diferentes culturas o respeito e a solidificação dos DDHH para que eles tenham validade universal. A questão não é à busca em torno de um modelo e sim a partir da multiplicidade das demandas humanas e possibilitar a efetivação dos DDHH. Essa possibilidade só será concreta no momento em que se esclareça a todos que eles enquanto indivíduos, cidadãos e pessoas são portadores de direitos.
Rege um curso de direitos humanos nas ruas do Rio como forma de demonstrar que a prática de se está no espaço público faze parte do aprendizado em direitos humanos. Tem como temas abordados a realidade dos menores de rua, a justiça comunitária, os direitos humanos das mulheres, mas o meio ambiente é o tema que predomina, já que os alunos de pós-graduação que orienta pesquisam a relação entre direitos humanos e ambientes urbanos. Lembra que a escolha dos lugares públicos irá depender da necessidade de cada um. Até porque podem interagir com o espaço de duas maneiras: (1) envolvimento passivo –não se tem uma implicação com o ambiente; (2) envolvimento ativo –necessidade de explorar o local para conhecer, sem esquecer o fato de que os espaços públicos são os lugares onde ocorrem diversos tipos de reações e de violações. Por isso quando o espaço público se torna o lugar dentro do processo de humanização é lugar digno da integridade humana.