MUJICA, R.M. Educar en Derechos Humanos, reto y exigência, In: OSÓRIO, J. e WEINSTEIN, L. (Org.) La fuerza del arco iris: movimientos sociales, derechos umanos y nuevos paradigmas culturales. Chile: Institute of Social Studies de la Haya (ISS) y el Consejo de Educación de Adultos de América Latina (CEAAL), 1988, p. 317 – 328.
O artigo inicia com uma análise do atual contexto peruano, diagnosticando uma situação de crise social: fome, violência, desemprego, ausência de serviços básicos, doenças, etc. A autora afirma que “”no Peru não se respeitam os Direitos Humanos””. A opinião pública parece estar cada vez mais “”acostumada”” com a violência. Não há denúncia, pelo contrário, o que se percebe é uma aceitação da violência como algo natural, e portanto, como algo que não podemos modificar. A autora acredita ser indispensável compatibilizar a denúncia com a prevenção. A prevenção é precisamente o espaço, a tarefa, o objetivo da educação em direitos humanos. O artigo procura especificar o significado da educação popular. “”A educação popular parte das necessidades, aspirações e interesses do próprio povo. Responde à exigência de transformar não somente a educação, senão a história. É uma educação de base, entendida como teoria e prática que parte dos fatos da vida quotidiana para poder defender a vida em todos seus níveis: biológicos, culturais, ecológicos.”” (p. 322). Segundo a autora a educação popular é responsabilidade da própria organização popular e se dá tanto na escola como fora dela. “”Exige qualidade técnico-pedagógica e um mestre sensível, capaz de transformar condições negadoras da vida, de estabelecer relações afetivas necessárias para que a horizontalidade seja uma realidade nas relações educativas. A educação em direitos humanos se inscreve decididamente na educação popular como projeto e como alternativa, e é um dos caminhos de busca de respostas às condições de violência e injustiça social. A autora faz um levantamento de temas que convocam trabalhos futuros, tais como: a relação entre educação e política, educação e ética, educação e discriminação racial ou sexual, etc. Faz-se referência a experiência da “”Rede Peruana de Educação em Direitos Humanos e a Paz””, que organiza oficinas de reflexão, reuniões semanais de discussão, intercâmbio e programação de atividades. Menciona-se também, o trabalho junto aos professores desenvolvido pelo Instituto Peruano de Educação em Direitos Humanos e a Paz. “”Trabalhando com os mestres, produzimos materiais de apoio e guias que lhes abram algumas pistas para descobrir as possibilidades que a escola oferece (…).”” (p. 327) Este grupo estimula a formação de círculos autoeducativos, ou seja, agrupamentos voluntários de mestres que seguem se reunindo, aprofundando a reflexão de sua prática pedagógica com vistas a autocrítica e buscando uma troca de experiências para não se cair na rotina. O artigo denuncia as violações dos direitos humanos no interior da própria escola. Seja pelo difícil acesso ao sistema escolar para maioria da população, seja pela reprodução de práticas educacionais que traduzem um sistema autoritário e vertical, seja por uma disciplina que nega a possibilidade de investigar e de autoeducar-se, como também, por um sistema de avaliação que sobrevaloriza os resultados de uma aprendizagem apenas intelectual-memorística, assim como por planos e programas de estudo oficiais que negam a realidade quotidiana dos alunos privilegiando o cognoscivo sobre o desenvolvimento afetivo, das atitudes e da criatividade. Segundo a autora “”resulta então indispensável vincular a luta pelos direitos humanos desde a escola, com a luta que se dá desde a própria organização popular, ou seja, partir das necessidades da coletividade, estar profundamente vinculados à vida quotidiana de nosso povo””. (p. 325). A autora chama atenção para a necessidade de explicitar o que se compreende por direitos humanos. Ressalta três dimensões fundamentais que devem estar presentes conjuntamente nos enfoques: a dimensão técnica, a política e a ética. O artigo denuncia uma série de problemas sociais enfrentados pela população peruana e apresenta algumas experiências que visam a prevenção das violações dos direitos humanos. Confere a escola e aos professores um papel fundamental na luta contra o desrespeito aos direitos humanos. Assinala a finalidade de se educar na democracia e, não somente, para a democracia, assim como a necessidade fundamental de desenvolver um trabalho junto aos professores de conscientização frente a temática dos direitos humanos. Propõe como um dos objetivos da educação em direitos humanos a prevenção contra a violação desses direitos. Destaca as relações entre educação popular e a educação em direitos humanos e apresenta o testemunho de algumas iniciativas existentes no Peru, para o melhor desenvolvimento da tarefa de se educar em direitos humanos.