MARANDINO,M.Educação em direitos humanos: um eixo para o ensino de ciências”, In: Tecnologia Educacional, vol. 25, nº 129, Rio de Janeiro, Mar-Abr / 1996, pp. 26 – 33.

O artigo tem como principal objetivo articular uma aproximação entre a educação em direitos humanos e o ensino crítico de ciências. De acordo com a autora, esta aproximação visa a construção coletiva e social do conhecimento em ciências e a formação do cidadão crítico, participativo e construtor de uma sociedade nova. Num primeiro momento, o texto apresenta os elementos que fundamentam a proposta da educação em direitos humanos. Para esta fundamentação utilizou-se dos resultados do trabalho realizado pelo programa “Direitos Humanos, Educação e Cidadania” desenvolvido pelo Projeto NOVAMERICA. O texto parte do pressuposto que a educação em direitos humanos passa necessariamente pela escola. A escola que tem muitas vezes exercido um papel de manutenção e reprodução das desigualdades e injustiças sociais deve ter seu lugar de socialização e construção de novas realidades recuperado e reafirmado neste processo. Segundo a autora, a educação em direitos humanos se realiza no cotidiano e deve despertar os alunos a indignar-se contra toda forma de violação da dignidade humana, a admirar-se com a defesa dos direitos humanos; a convicção nas atitudes que constróem uma ética educacional. A proposta pedagógica de educação em direitos humanos que é apresentada no artigo busca promover a formação do cidadão. Como aspecto importante da cidadania entende-se reconhecer e denunciar o desrespeito dos direitos humanos ou sociais. Os Direitos Humanos despertam também para a ação político-social coletiva e uma prática educativa dialógica, participativa e democrática. Ao destacar a luta pelos direitos humanos no cotidiano, a autora se remete para outro princípio fundamental desta proposta: os Direitos Humanos são conquistas históricas, este fato motiva para a continuidade das lutas e novas vitórias no campo dos Direitos Humanos. Num segundo momento o texto apresenta alguns elementos importantes para a elaboração do ensino de ciências numa perspectiva crítica e articulada com a experiência da educação em direitos humanos. Segundo Marandino, esta perspectiva deve valorizar uma abordagem que trabalhe a historicidade do conhecimento científico, entendendo a ciência como uma construção humana e histórica. É preciso aproximar também a ciência e o discurso tecnológico dos problemas que afligem a sociedade em que se vive e o cotidiano do indivíduo. Sendo assim, a ciência pode se constituir em um instrumento precioso para se fazer da escola um espaço de promoção e transformação social. A autora passa então a analisar com mais minúcia cinco pontos que devem compor o ensino crítico de ciência: 1. A dimensão histórica do conhecimento científico – visa revelar o discurso da ciência como socialmente construído e fruto do seu tempo histórico, evitando assim uma visão estática da ciência e uma falsa neutralidade e objetividade do cientista. 2. A promoção da vida – este ponto está em total sintonia com a educação em direitos humanos. Tem como objetivo buscar critérios para que a ciência e a tecnologia estejam a serviço da vida. O ensino de ciência deve ter como tema e preocupação central a promoção e a garantia da vida. Pode-se articular aqui todo discurso ecológico que busca com apoio da ciência encontrar maneiras de se promover o desenvolvimento social protegendo o meio ambiente, buscando um desenvolvimento sustentável (p. 51). 3. Educar para a ação em ciência – visa ter a ciência como instrumental teórico que propicie uma análise da sociedade e da escola, dando ao aluno a possibilidade de colaborar e de elaborar propostas que ajudem a melhoria da vida da comunidade. 4. Método – O texto indica o diálogo, a abertura e a prática democrática como método para se educar para a ação. É preciso superar a dinâmica do professor que sabe e transmite e o aluno que não sabe e recebe. 5. O papel de ensino em ciência – este ponto de certa forma perpassou todo o texto, e como revela a própria autora, o objetivo é o primeiro passo de uma ação pedagógica. No texto foi deixado propositadamente para o final com a intenção de mostrar que um novo papel do ensino de ciências só é possível dentro de concepções de sociedade, de ciência e de educação e de ensino bem definidas. O ensino de ciências deve ser compreendido como uma possibilidade de construir uma prática de transformação da escola e da sociedade em direção dos direitos humanos e sobretudo da vida.