PENIN, S. Cotidiano escolar e ensino: conhecimento e vivência, In: ANDE, ano12, n.º 19, São Paulo, 1993, pp. 5 – 10.

O artigo começa citando Marx e Nietzsche e sua concepções de vivência. Marx fala de uma tendência a dicotomizar filosofia e realidade, conhecimento e vivência, propondo que “”ao contrário da filosofia alemã, que desce do céu para terra, vamos aqui, da terra para o céu…”” e diz ainda que nós, com nossa vivência, é que determinamos a conciência e não ela a nós. A citação de Nietzsche é uma crítica a qualquer tipo de dogma, como algo que nega a vivência. O artigo enfatiza então a importância que Marx e Nietzsche tiveram na valorização da vivência e na crítica à filosofia. A seguir, cita outros dois “”pensadores””, primeiro Antonio Candido em uma manifestação em 49, num jornal paulista, quando rebatia as críticas que faziam à obra de Nietszche, onde diz que o ideal nietszchiano seria o pensador que passa livremente pela vida e recusa considerar a atividade criadora uma obrigação intelectual. O segundo autor é Lefebvre, que publicou várias obras sobre M arx e Nietzsche, dizendo que os dois saem da filosofia tradicional. Marx diferência o vivido do concebido e Nietzsche ataca a moral, considerando-a opressora, instrumento político, e também como representaçào que envolve e dissimula a vivência. Num segundo momento o artigo mostra que ao contrário de Marx e Nietzsche que valorizam a vivência, a nossa civilização hoje sobrevaloriza o conhecimento sistematizado. Com o advento da modernidade, a supervalorização da ciência, fez com que se desconsiderasse o valor da vivência, e que esta teria sido relegada a arte e a literatura, mas sem a força do conhecimento “”válido””, que geralmente acompanha o saber científico. No ensino esses parâmetros da cientificidade, foram marcantes, tratando os saberes como saberes estanques específicos e válidos. Oa saberes acumulados sobre o ensino apresentam-se sob a forma de conceitos, ou teorias, que são formados a partir da prática pedagógica, mas que não esgotam o fenômeno, e muitas vezes esses conceitos não só não ajudam, mas até dificultam a compreensão do “”fenômeno””. Tem-se que abandonar o conceito e retornar à prática para que se criem novos conceitos, que dialoguem com os já existentes. Quando se fala em prática pedagógica e vivência, não há como não pensarmos em cotidiano escolar, é preciso então analisá-lo contextualmente, não esquecendo de outras realidades (econômica, política). Num terceiro momento o artigo o explica que entende por conhecimento sistematizado, aquele que contém não apenas conceitos teóricos, algo já assinalados, mas também as ideologias que os impregnam ou os sobrepõem. Entende vivência como o corpo e a subjetividade assim como a vivência social e coletiva das pessoas. O ensino representa, então, a articulação entre o concebido e o vivido. Assim surgem algumas questões como: como se dá a articulação entre o concebido e o vivido no professor? qual o peso de um e de outro? quantas dessas representações se transformam em verdadeiro conhecimento, deixando de se resumirem apenas a saberes? O artigo não se propõe a responder tais questões, mas trazê-las à tona. À questão da articulação, por exemplo, usando os ideais de Lefebvre, que quando o outro deixa de alienar o sujeito; é quando o sujeito deixa de impor sua lógica ao objeto, que o conhecimento é entendido em termos de construção de um conceito. Afirma que qualquer saber deve ser examinado, antes de ser considerado válido. Enfatiza-se então a afirmação que o ensino enquanto atividade desenvolvida é uma prática de conhecimento, desfazendo a idéia de que só o conhecimento científico é verdadeiro, valorizando o ensino como prática do conhecimento, o que não implica a desvalorização da reflexão teórica sobre a prática, ou sobre o conhecimento sistematizado. Finalmente, o texto considera importante enfatizar que, seja o acesso ao saber elaborado, seja a vivência de uma prática, ambos se transformaram em conhecimento se passarem de forma dialética pelo crivo do pensamento reflexivo lembrando a importância de estudos sobre cotidiano escolar, para a reflexão e discussão dessas práticas.