DP&A Editora, 2001.

Tem como alvo de investigação o Movimento da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e pela Vida, que teve como um dos principais condutores a figura de Herbert de Souza, o Betinho. Nascida no ano de 1993, que objetiva, dentro da realidade brasileira, erradicar a mísera situação em que passa um grande parcela da população que é carente de vários fatores essenciais à manutenção da vida, sobretudo a alimentação. A presente obra dá a sua contribuição a partir de materiais coletados nos anos de 96 e de 97, que inclui, entre os vários conteúdos que apresenta, a criação dos comitês locais que estão espalhados por diversas regiões do país, que atuando visando à modificação social a partir da realidade do lugar. Como é sabida por todos, na recente História do Brasil, que a implantação da democracia que beneficie todos os cidadãos, continua sendo uma das grandes dificuldades frente à realidade nacional, realidade esta que trás como conseqüência situações horrendas, nomeadamente a desigualdade social, sem esquecer os desníveis sociais culturais, econômicos, étnicos, etc. Constatado este fato, o Movimento da Cidadania almeja dignificar os milhões de excluídos presentes no território nacional, oferecendo meios pelos quais possam resgatar a sua cidadania, através da participação, tanto no âmbito da comunidade, como na participação de cunho político, do debate, da responsabilidade que cada cidadão tem que ter frente à realidade, etc., sem que deixe de estar articuladas com a política, a ética e a cultura. Uma das características básicas do Movimento da Cidadania está representada pelo “Natal Sem Fome”, realizado deste o ano de 1993. Este “Natal” tem como referência básica, oferecer à população excluída e a todas as famílias carentes, oferecendo-lhes alimentos não perecíveis que são arrecadados perante uma campanha nacional, para que desta maneira alivie um pouco a dor e a humilhação que os desfavorecidos sofrem. Acentua que a Ação da Cidadania não é um movimento que não possui interesses políticos partidários, mas que visa a diversidade dos vários atores sociais, a descentralização e a flexibilidade perante a realidade de cada qual e acrescenta que por isso mesmo trás em seu interior diferentes atores sociais, tais como: instituições políticas, partidárias, religiosas, culturais, etc., para que dessa maneira possa abranger um número cada vez mais significativo da parcela organizada e não organizada da população. Adiciona que a Ação da Cidadania trouxe à tona uma realidade que para muitos brasileiros era desconhecida: a miséria e a fome que passam milhões de brasileiros, sem esquecer o fato de que a Ação da Cidadania, segundo alguns coordenadores, incorpora também dentro de seu quadro a participação política das camadas mais pobres da população. Conceitualiza cidadania como sendo o direito que permite manter-se vivo e descobrir que é cidadão, ou seja, é ter a consciência de que é sujeito e que por isso possui direitos e deveres para e com a sociedade; é aquele que enquanto cidadão pode e deve construir a cidadania, no sentido de poder ajudar os outros a despertar para a mesma realidade e assim poderem lutar por aquilo que lhes é de direito. Diz que “Cidadania é ter consciência do poder de ação e da iniciativa que cada cidadão tem para ‘modificar o rumo das coisas. Fazer política e História’. É ter a coragem de começar a ousadia de agir e querer fazer e fazer com outros, solidariamente, coletivamente” (p. 100). Levando-se em consideração o teor educativo que possui a Ação da Cidadania, explica que a educação está voltada para a ação, não possuindo, neste contexto, uma prática formal, academicista. O interesse maior está voltado à interação do sujeito com a realidade; uma educação que se dá no dia a dia sem perder de vista o contexto no qual se está inserido. O “Movimento da Ação da Cidadania contra a Fome a Miséria e pela Vida” considera que é de suma importância a responsabilidade que cada qual deve ter frente a uma nova maneira de conceber e de se fazer política, para que se possa atingir as três etapas que são os alicerces para a ação política: (I) a solidariedade (como um modo radical de ser humano e uma prática capaz de gerar uma mudança cultural); (II) a organização e o fortalecimento da sociedade civil (a partir da responsabilidade de cada cidadão) e (III) o papel mobilizador, interpelante e de pressão da sociedade civil na sua relação com o Estado. Considera como desafia maior do Movimento da cidadania consiste é fazer com que se rompa a cultura política para que se possa construir o cidadão rumo a uma sociedade civil, e assim se prevaleça nela à democracia.