Isis Internacional, Jan/Mar 2002
Trata-se do resumo de um documento elaborado por especialistas da Iniciativa Feminista Cartagena para a Conferência sobre Financiamento para o Desenvolvimento que se realizou em Monterrey (México). Esse documento é na verdade uma resposta à ausência de propostas em relação às questões de gênero que ficaram omissas nas discussões durante a Conferência. Considera que a característica maior que marca a contemporaneidade é a separação, ou melhor, a exclusão que isola aqueles que tem com relação àqueles que não têm, o que tem preocupado com demasia povos e instituições, aumentando a injustiça e o aumento da pobreza. Os discursos que se tem hoje sobre desenvolvimento perpassam sobre os temas da igualdade e sobre a redistribuição de renda, sobretudo ao que diz respeito às questões do gênero que com todas as lutas dos movimentos feministas, as mulheres ainda são muito injustiçadas e sofrem diversos preconceitos na sociedade. Considera necessário compreender o que vem ocorrendo no mundo globalizado para que possa ter claro sobre os acontecimentos que vem ocorrendo e como abortar essa situação. Para Zedillo (2001) uma das maneiras que se tem para que haja a redução das desigualdades é seguir o caminho para o lado moral e humanitário, até porque a relação entre pobreza e terrorismo não está distante. Sabe-se que o ataque bélico e econômico sofrido pelos Estados Unidos em 11 de Setembro, representa uma revolta antiga da insatisfação dos países pobres e colonizados pelas nações mais ricas. Deve-se então unir forças tanto por parte dos ricos quanto pelo lado dos pobres para que a solidariedade seja uma “válvula” propulsora, não somente para que se ponha fim as desigualdades, mas sobretudo, para garantir a sobrevivência da espécie humana. Indica que a Conferência deve direcionar os seus esforços para a reflexão sobre que tipo de desenvolvimento se almeja alcançar, já que até então não há nada clarificado sobre isso, como também não há nenhum tipo de discussão ou questionamento sobre de que maneira estão se dando as práticas das políticas públicas nos últimos anos. Por exemplo, sabe-se que o CEPAL demonstrou que a taxa de crescimento na América Latina vem diminuindo de maneira considerável se comparada com o crescimento do ano 2000, sobretudo com o aumento do desemprego, que faz com que a sua população perca a esperança que um dia esse continente terá uma vida mais próspera e frustrando todas as suas sociedades que algo novo, no sentido positivo do termo, venha ocorrer, restando apenas a ilusão que um milagre ou um salvador da pátria poderá resolver os seus problemas, que não são poucos, ocasionando dessa maneira, sérios problemas políticos, já que a sua população está apática perante as situações e as frente às instituições políticas. O resultado dessa situação é por demais conhecida para a população latino-americana: intervenção de grupos estrangeiros, que só tem o interesse de obter lucros e o de investir o mínimo possível; pouca diversificação dos produtos exportados, etc. É sobre essas diversificadas realidades que a Conferência deve jogar os seus esforços para que saiba posteriormente como agir. Alerta que se continuar a exploração sem controle e não sustentável dos produtos naturais na América do Sul, por parte das multinacionais e de grandes indústrias, a qualidade de vida das futuras gerações estará comprometida, pois um dos problemas maiores que já se faz presente e que poderá acentuar-se mais ainda no futuro, diz respeito a igualdade em todas as suas formas que com tudo dever um fator positivo: a inserção massiva da mão-de-obra feminina, contudo sem esquecer o fato que persiste a discriminação, as condições precárias para que possam atuar e a segregação por parte das atividades de trabalho. Em suas pesquisas, a OIT (Organização Internacional do Trabalho) tem demonstrado que com o crescente aumento do desemprego o setor informal cresce demasiadamente. Isso porque o mercado de trabalho exige, cada vez mais, trabalhadores qualificados, fator central que irá definir a remuneração que irá ganhar. Denuncia que é impossível sustentar uma sociedade que se pretende ser justa e democrática quando permanece em seu interior a desigualdade entre os gêneros com relação à participação política, a divisão de poderes na vida pública, as oportunidades no de trabalho, etc.. Mostra que impraticável fechar os olhos em presença da contribuição que as mulheres vêm ofertando no mercado de trabalho em suas diversas facetas. por isso que, quando um a determinada sociedade e/ou o poder público reconhece a importância dos níveis de igualdade entre os gêneros, pois a discriminação entre os gêneros é uma realidade na maior parte do mundo, ainda mais nas sociedades autoritárias, fortalece o crescimento econômico, reduz a pobreza e a maneira pela qual se vai governar fica mais transparente. Não se obstem de mencionar, é claro, que entre homens e mulheres têm potências diferenciais e por isso mesmo outras maneiras de interpretar a realidade; porém essas diferenças devem ser aproveitadas para unir forças; para somar nas decisões e não para excluir ou discriminar. Reconhece que nenhuma sociedade é estática, por isso a importância de se observar as relações sociais em todos os seus âmbitos, sobretudo como está constituída na relação entre os homens e as mulheres, pois quando ambos se mantém distanciados por motivos preconceituosos, a História da Civilização já demonstrou que é um entrave para a construção de sociedades justas e fraternas.