Nesta quarta-feira (4), a família de Moïse Kabamgabe falou os agentes da Delegacia de Homicídios da Capital sobre o caso do assassinato do jovem em um quiosque na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Os parentes estavam acompanhados de seu advogado.
Aos presentes, a mãe do jovem, a comerciante Ivone Lotsove, disse: “Eu só quero justiça”.
Moïse, de 24 anos, foi espancado até a morte por três homens na noite de 24 de janeiro. Segundo sua família, o crime ocorreu após a vítima cobrar pagamentos atrasados dos bicos que fazia.
Após a tarde de depoimentos, Ivone retornou à sua casa com familiares, amigos e membros da comunidade congolesa. Ao portal UOL, admitiu que sente vontade de sair do país.
“Depois disso a gente quer sim sair no país, mas não antes de concluírem o caso do meu filho. A gente não pode deixar o Brasil enquanto a justiça não for feita”, disse a mãe.
O sentimento de Ivone é compartilhado por outras pessoas próximas à Moïse.
“Só vamos sair depois que tivermos uma resposta, depois que tudo for concluído. Prenderam três pessoas, mas até agora ninguém explicou o que de fato aconteceu. A gente quer saber a verdade, o motivo de tanto ódio. Cadê as outras pessoas que viram e não prestaram socorro?”, desabafou o irmão do jovem, Djodjo Baraka.
Segundo a investigação, Moïse foi agredido por 15 minutos e recebeu 30 pauladas. O jovem ainda recebeu um “mata-leão” e foi amarrado.
O caso ganhou repercussão apenas cinco dias depois, quando a comunidade congolesa do Rio realizou um ato em frente ao local do crime no último sábado (29). Desde então, três agressores foram presos.
Fugindo da fome e da guerra, Moïse Kabamgabe e seus quatro irmãos se mudaram para o Brasil em 2011. Em 2014, a mãe conseguiu vir ao encontro do filho, mas o pai acabou desaparecido no Congo em meio aos conflitos. O quinto irmão da família, de 7 anos, nasceu no Brasil.
Ivone falou também sobre os dias de aflição antes que o caso se tornasse público.
“Ninguém falava nada sobre o caso do meu filho, não tinha nenhuma novidade, é como se nada tivesse acontecido”, contou. “Ele era um ótimo filho. Alegre, amoroso, engraçado, cuidava da casa e sempre ajudou a cuidar dos irmãos mais novos”.
Três agressores já foram presos
Três suspeitos de participarem do assassinato do jovem foram presos. Os homens agrediram Moïse durante 15 minutos, incluindo com pauladas, enquanto o congolês pedia para não ser morto. Eles foram encaminhados para a cadeia pública de Benfica.
Um dos suspeitos é Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, o Dezenove, que afirmou em seu depoimento na Divisão de Homicídios que trabalhava como garçom e cozinheiro no quiosque Biruta. Ele tentou justificar o crime afirmando que bateu em Moïse com um taco de beisebol para “extravasar a raiva que estava sentindo” do congolês, que, segundo ele, o estava “perturbando há alguns dias”.
Aleson afirmou que depois de agredir o jovem ligou para o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e esperou a chegada da ambulância, enquanto os outros participantes fugiram.
Os outros homens apontados como os agressores são Fábio Pirineus da Silva, o Belo, e Brendon Alexander Luz da Silva, o Tota. Ambos deram a desculpa de que Moïse estaria alcoolizado e que tinha um histórico de arrumar confusões com outros funcionários e clientes. Tentaram ainda justificar sua ação dizendo que a briga começou porque a vítima queria tomar cervejas de graça.
A família nega essa versão e diz que Moïse foi agredido ao tentar cobrar pagamentos atrasados do estabelecimento. Para o advogado da família, os agressores tentam construir uma imagem negativa da vítima.
“Ele não era uma pessoa aleatória, bêbada, como estão tentando construir”, disse Rodrigo Mondego.