A comitiva de mulheres de Roraima participou dos debates na Casa de Resistência das Mulheres e do II Tribunal Ético de Justiça e de Direitos das Mulheres Andinas.
Por: Evilene Paixão.
A diversidade e a pluralidade estavam estampadas no rosto de cada mulher indígena, negra e branca representantes de movimentos sociais e articulações de povos de nove países que promoveram e participaram de debates em defesa dos povos da Amazônia e da democracia durante as atividades do 10º Fórum Social Pan-Amazônico (Fospa), realizado na Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém, de 28 a 31 de julho.
De Roraima participaram comissões de diversos segmentos sociais entre eles o agrupamento do mulheres representado por Nelita Frank, Inara Nascimento e Evilene Paixão pelo Núcleo de Mulheres de Roraima (Numur) e Articulação de Mulheres Brasileira (AMB); Maria Gerlânia da Silva pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST/RR); Letícia Barbosa pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE/UFRR); Maria Elinia, professora indígena da Raposa Serra do Sol e da secretaria de mulheres do Conselho Indígena de Roraima (Cir); Atener Ambrosio da União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (Umiab); e Tuíra Kopenawa Yanomami, da Hutukara Associação Yanomami (HAY).
O grupo esteve presente nas ações realizadas na Casa de Resistência das Mulheres e debateu os seguintes temas: “Resistências feministas Pan-amazônicas e antissistêmicas na luta contra o patriarcado capitalista racista colonial”; “Mulheres e Democracia: A democracia que queremos”; “Conflito Capital x Vida”; “Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos – Nossa luta contra o fundamentalismo e por justiça Reprodutiva”; “Identidade de gênero e orientação afetiva/sexual frente ao patriarcado, aos fundamentalismos, fascismo”. O Grupo participou ainda do lançamento da “Marcha das Margaridas” e da Campanha “Nosso Corpo, Nosso Território”.
“O Fórum é um espaço muito rico de construção da classe trabalhadora, mas também dos movimentos feministas. E a Casa de Resistência das Mulheres pautou temas significativos que mostram a importante da união das mulheres e organização para uma luta antissistêmica, em defesa da vida das mulheres. Enquanto mulheres precisamos aglutinar forças e derrubar o patriarcado e o capitalismo neoliberal”, disse Maria Gerlânia do MST.
Um dos momentos mais importantes durante o Fórum foi o Tribunal de Justiça e Defesa dos Direitos das Mulheres Pan-Amazônicas e Andinas que aconteceu no auditório Benedito Nunes da UFPA. O tribunal contou com os relatos das depoentes indicadas pelos seus países: Tuíra Kopenawa Yanomami e Maria das Graças Brazão, quilombola do estado do Amapá, foram as representantes do Brasil; Zuly Rivera, do povo Nasa Putumayo pela Colômbia; e, Juana Martínez Saenz, liderança campesina representando o Peru.
Os relatos denunciaram as violências sofridas por essas mulheres em seus países e exploração em seus territórios. Depoimentos cheios de muita dor e sofrimento, carregados de emoção, mas ao mesmo tempo, com manifestações de afetos e solidariedade entre as participantes na tribuna e na plateia a cada denúncia apresentada.
“Como mulher indígena volto para Roraima mais fortalecida e unida ao conjunto de luta das mulheres de todos os estados do Brasil” – Maria Elinia.
Tuíra Kopenawa, que é filha do xamã Davi Kopenawa – principal liderança do povo Yanomami – se emocionou ao relembrar o massacre de Haximu. Ela cresceu acompanhando a luta de seu pai. Aos 29 anos foi a mais nova liderança no II Tribunal Ético de Justiça e de Direitos das Mulheres Andinas. Tuíra denunciou a invasão garimpeira na Terra Indígena Yanomami, que causa devastação ao meio ambiente, ameaça a vida das comunidades e provoca violência de todas as formas contra mulheres Yanomami – principalmente, abusos e exploração sexual o que leva à morte mulheres, adolescentes e crianças.
“A luta das mulheres não é diferente. Nós mulheres indígenas e não indígenas estamos lutando pelo mesmo direito, pelo nosso território. Contra a invasão e contra os ataques do governo federal. Por isso é importante a união para o fortalecimento de nossos encontros, como aqui no Tribunal das Mulheres. Como mulher indígena volto para Roraima mais fortalecida e unida ao conjunto de luta das mulheres de todos os estados do Brasil”, destacou Maria Elinia da secretaria de mulheres do Cir.
“A carta final do Fospa destaca o combate ao racismo, ao sexismo, ao fundamentalismo, a devastação da Amazônia, defende a proteção dos povos indígenas, das populações tradicionais e seus territórios” – Nelita Frank.
Para Nelita Frank, a Casa de Resistência das Mulheres e o II Tribunal Ético de Justiça e de Direitos das Mulheres Andinas foram momentos muito potentes para as mulheres amazônidas. “Realizam troca de conhecimento, tomaram contato com o feminismo Latino-Americano, suas lutas e violação de direitos, que são experiências comuns às mulheres. Elas voltam aos seus Estados com muitos desafios para fortalecer as suas organizações e as lutas feministas. A carta final do Fospa destaca o combate ao racismo, ao sexismo, ao fundamentalismo, a devastação da Amazônia, defende a proteção dos povos indígenas, das populações tradicionais e seus territórios”, destacou.
Com a participação de cerca de 10 mil pessoas, representantes dos nove países que abrangem a floresta Amazônica – Brasil, Guiana Francesa, Suriname, Guiana, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia, com grandes eventos, atividades autogestionadas e paralelas, o 10º Fórum Social Pan-Amazônico (Fospa) finalizou no último domingo (31/07).
Confira a versão preliminar do documento final do Fospa, a Declaração Pan-Amazônica. A carta oficial será publicada ainda nesta semana.