Vozes, 2001.

Define a palavra desencanto como sendo a perda da esperança em um mundo, como foi a do século XX, que mantenha o pensamento utópico. O desencanto vem sempre acompanhado da tristeza e da desilusão, contudo isso não é mero acaso. O século que findou (século XX) foi considerado um dos mais brutais na história da humanidade, enquanto que o século XXI se iniciou com o dramático terrorismo no dia 11 de Setembro sobre as Torres Gêmeas nos EUA. Recorda que por um lado há os terrorista que exterminam com vidas de maneira indiscriminada que em nome da religião tem o pretexto de cometer suas ações extremistas que em nenhuma hipótese se justificam. Por outro lado, se tem os EUA, que com sua política imperialista, insistem em ser os “donos do mundo”, acumulando ódio em toda à parte do mundo. Lembra que, por sua vez, a educação não ficou imune ao desencanto, já que todos sabem que a situação não vai bem. Sabe-se que a educação pública vive um momento bastante difícil, pois com a política neoliberal praticada pelos governantes criando novas formas de fragmentação educacional, subtraindo uma parcela considerável da população o direito de ter acesso à educação pública, gratuita e de qualidade. Com todos os acontecimentos que abalam o mundo, recorda que nenhum império é tão poderoso que se possa sustentar eternamente. O poder hegemônico que se instalou não pode e nunca será definitivo, até porque forças “contra-império” já se fazem mostrar com novas formas criativas, construtivas e renovadoras de intervenção, mostrando a todos que é mais do que possível um mundo diferente e melhor para todos, como está demonstrado nos novos movimentos sociais e populares, nos protestos e de todo o tipo de manifestações antiglobalizantes que vem ocorrendo em âmbito mundial, ao contrário do que vem tentando mostrar os dono do poder político e econômico que insistem em anular a participação dos cidadãos nas decisões políticas. Ao lembrar as idéias do sociólogo francês Robert Castel, diz que ele detecta três maneiras diferenciadas de exclusão: (1) a primeira refere-se a supressão completa de uma comunidade, quer dizer, quando se pratica ações que expulsam ou exterminam um grupo, uma população ou mesmo todo um povo, como foi o caso da colonização espanhola e portuguesa na América, o caso do Holocausto exercitado pelo nazismo e das lutas interéticas no continente africano; (2) a segunda remete-se ao mecanismo de confinamento ou reclusão, é o que se faz, nas sociedades modernas, com os meninos delinqüentes, com os doentes mentais, com os deficientes físicos, mantendo-os em “lares especiais” como forma de afasta-los do convívio social e (3) segregar incluindo, diz respeito a uma determinada classe de indivíduos específicos que apesar de não extermina-los diretamente, produz mecanismos que faz com que eles convivam com os incluídos socialmente, mas em condição inferior ou subalterna, como é o caso dos sem-tetos, da população negra e das crianças que perambulam pelas ruas da cidade. Observa que a instituição escola, por sua vez, comete também vários tipos de exclusão. Por exemplo, a qualidade do ensino dependerá para que tipo de público se está dirigindo. Oferece educação pobre aos pobres; as elites têm acesso a uma educação de excelência, o que fez da educação um privilegio de poucos e não um princípio de igualdade entre as pessoas. Concorda com o fato de que a educação, a cidadania, a justiça e a democracia mantêm um vínculo recíproco entre elas. O problema reside na constatação de que tipo de vínculo relaciona a educação com a cidadania, a justiça com a democracia, etc., e quem define o tipo de vínculo. Sabe-se que a cidadania se concretiza na medida em que ela proporciona aos cidadãos meios deles serem os portadores de seus direitos. Assim, educar para a cidadania equivale dizer que é transmitir os direitos que formalmente são reconhecidos; isso se a educação for encarada com o mecanismo de socialização e do reconhecimento dos direitos políticos, civis e sociais. Acrescenta que não se deve perder de vista que a educação não está resumida em ser apenas a transmissora de direitos, mas é fazer com que os cidadãos reconhecem que os seus direitos podem e devem ser compartilhados com toda a comunidade, reconhecendo a cidadania de maneira mais crítica e consciente, porque quando a cidadania está reduzida a critérios puramente jurídicos é na verdade uma cidadania limitada e alienada. É com a formação para a cidadania que se capacita a pessoa a questionar, a pensar, a assumir as suas ações perante o mundo, assim como saber ouvir e respeitar opiniões, valores e maneira de ser que seja diferente do que se tem. Acredita que o ato de educar é mostrar de maneira clara que não há um abismo considerável entre objetividade e subjetividade, tão comum na contemporaneidade, já que são essas duas realidades que aproxima o ser humano de seus semelhantes e para a compreensão da realidade, para que haja a compreensão, a solidariedade e a tolerância. Educar também pode ser a formação de cidadãos que tenham uma visão crítica suficiente para denunciar quando a sociedade através de diversos mecanismos neutraliza e/ou paralisa o sonho e a felicidade de milhões de pessoas, reduzindo-as apenas a consumidores.