KLAINER, R.; LOPEZ, D. e PIERA, V. Aprender com los chicos. Propuesta para una Tarea Docente fundada en los Derechos Humanos, Argentina: Ediciones del Movimiento Ecuménico por los Derechos Humanos, 1989.
Na introdução da cartilha, ao refletir sobre as origens dos direitos humanos, o autor afirma que “”ainda que os direitos estejam cimentados no mais íntimo da natureza humana, sua construção nas próprias vidas e nas vidas das gerações futuras é tarefa e luta de indivíduos, grupos e povos””. (p. 5). Chama-se atenção para o caráter universal dos direitos humanos; “”a Declaração foi entendida como ideal comum pelo qual todos os povos e nações devem esforçar-se””. (p. 5). Destacam-se as sucessivas violações sistemáticas que se tem produzido em nosso continente. O autor distingue três casos de violação: por ação, por omissão e por exclusão. Os casos de violação por ação são particularmente freqüentes no que concerne aos direitos civis. “”Nós falamos ante graves violações por omissão cada vez que as políticas econômicas não garantem o direito a um nível de vida digna, o direito ao trabalho, o direito à educação””. (p. 6) A outra forma de violação que é produzida pela exclusão ocorre quando determinados estratos da população são explicitamente marginalizados do gozo de seus direitos. Segundo o autor “”na ordem dos direitos civis e políticos, os cidadãos reclamam do Estado a garantia de seu pleno reconhecimento. Quanto aos direitos econômicos, sociais e culturais, sua vigência depende não somente da legislação que estabelecem os Estados, senão também do sistema de relações entre os diferentes grupos e classes sociais. Assinala também que, na atual ordem internacional se adquire cada vez maior consciência acerca dos direitos dos povos como sujeitos históricos””. (p. 6) Ou seja, se reconhece como fundamental o direito à autodeterminação. O autor nos convida a descobrir, conhecer e compreender a necessidade da plena vigência dos direitos humanos e não simplesmente enumerar artigos das declarações ou pactos. No livro há algumas considerações a respeito da problemática dos direitos humanos na escola. “”Segundo temos analisado neste trabalho, as crianças do sétimo ano ginasial avançam em seus conhecimentos quanto à classificação e à generalização dos distintos direitos, mas o conteúdo que lhes outorgam é a obrigação, o dever. Desde uma concepção do direito individual em que contam as necessidades dos outros, não as próprias, o ‘direito’ é o que temos que fazer, é pensado e sentido como uma limitação imposta pelos outros. É possível considerar o direito como um processo de construção com os outros? Fundamentar o trabalho docente nos direitos humanos significa, para nós, dispor-se a considerar e aprender a vincular-se com as necessidades próprias e dos outros, de indivíduos e grupos. Não consideramos o direito somente como um produto senão também como um processo que em si mesmo tem valor e que condiciona a qualidade do produto””. (p.7). O autor se mostra preocupado com a violação de um direito essencial tanto de docentes como de alunos: o de pensar, quer dizer, construir e exercitar sua autonomia intelectual. “”Se isto não é respeitado não terminaremos “”escolarizando”” as crianças, propondo-lhes um modelo escolar para vida, em lugar de educá-los, favorecendo sujeitos criadores, ativos, transformadores?”” (p. 8). Esta cartilha é organizada em cinco núcleos integradores: vida, identidade, comunidade, trabalho e educação. Cada uma das cinco unidades do livro compreende: 1) Uma introdução que se propõe interrelacionar os diferentes aspectos do núcleo mais além da nossa comunidade imediata. “”Perguntar-nos acerca desta dimensão dos direitos humanos em um marco mais global constitui um interrogante indispensável para compreender a ocupação cotidiana da escola””. (p. 9) 2) Uma introdução onde se desenvolve hipóteses acerca do significado dos direitos humanos na comunidade escolar. A partir daí são elaboradas algumas questões encaminhadas para as crianças. 3) As atividades de indagação se realizam com o fim de descobrir as idéias das crianças a respeito das temáticas interrelacionadas em cada núcleo. 4) Análise das respostas oferecidas pelas crianças, a partir da reflexão do professor. 5) Atividades sugeridas que em sua aplicação podem operar como novas instâncias de indagação. “”A análise do material elaborado pelas crianças proporcionou elementos para sugerir atividades destinadas aos três ciclos da escola: primeiro ciclo, 1 a 3 grau; segundo ciclo, 4 e 5 grau; terceiro ciclo, 6 e 7 grau””. (p. 9). São sugeridas algumas propostas metodológicas que possibilitam a participação das crianças na tomada de decisões e um aprendizado responsável da convivência: assembléias, debates, conselho de grau. Em cada unidade se incluem informações específicas, como por exemplo, acerca da organização das Nações Unidas e seus organismos especializados. “”Recomendamos que esta informação constitua um banco de dados, ou seja, que não seja transmitida em bloco às crianças, senão que se recorra a ela na medida em que seja solicitada por eles no transcurso da atividade””. (p. 10). No apêndice, há os textos completos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Declaração dos Direitos das Crianças, um calendário internacional com algumas datas fixadas pela ONU e um vocabulário no que se explicam conceitos vinculados aos direitos humanos. Apresenta, ao final, uma bibliografia auxiliar. As ilustrações que acompanham o texto foram feitas pelas crianças no marco das indagações realizadas. Esta cartilha tem um formato razoável, apresenta ilustrações e sua diagramação é boa. Estimula a capacidade crítica da criança através das atividades de indagação. Em suma este livro apresenta os resultados de uma proposta de trabalho desenvolvida com crianças dentro de estabelecimentos escolares, públicos e privados, com população da capital federal e da província de Buenos Aires. O processo realizado e sua produção se encontram documentados.