CUBAS, A.; ARANGUENA, E.M.; MONCLOA, G.E. e TINCOPA, L. Abriendo Horizontes. El Reto de Educar en Derechos Humanos con Maestros, In: Educar en derechos humanos: reflexiones a partir de la experiência, Lima: Edición Gramiface, Julho / 1991, p. 73 – 104.
O artigo do livro aqui sintetizado, trata da análise do conjunto de 30 cursos-oficinas realizados durante 1990, na área de capacitação do IPEDEHP, no Peru. Os objetivos deste instituto seriam: a- sensibilizar o magistério nacional na problemática dos Direitos Humanos no país, e sobre seu “”rol”” na difusão desta temática; b – promover e conquistar estes direitos; c- estimular uma tomada de consciência da necessidade de educar em Direitos Humanos e contribuir para a paz; d – fazer um diagnóstico da situação dos Direitos Humanos na escola; e- propor objetivos educativos, conteúdos, estratégias metodológicas, técnicas participativas e materiais para assumir o ato de educar em Direitos Humanos e na paz, no contexto de crise e violência que vive o Peru. Os autores apostam na educação em Direitos Humanos como meio de construção da democracia, da justiça e da paz. Assim, este trabalho pretende contribuir na formulação de pistas para outro futuro, assim como para a elaboração de materiais e o levantamento de problemas a estudar. Tais cursos-oficinas foram realizados para professores de setores populares, estudantes de pedagogia e autoridades educativas, e alguns deles também foram dirigidos a diretores, auxiliares, pessoal administrativo, etc., da escola. Inicialmente foram realizadas pesquisas para o levantamento de dados gerais dos participantes, além de investigar suas percepções sobre os Direitos Humanos, sua visão da prática pedagógica e dos elementos que a norteiam, de sua realidade profissional, etc. (os resultados foram publicados em um livro). Para análise dos resultados dos primeiros cursos-oficinas do primeiro nível, procurou-se conhecer inicialmente as expectativas dos participantes. Esta etapa também teve o objetivo de “”oferecer aos participantes a oportunidade de tomar consciência das razões de sua existência e oferecer informações aos organizadores acerca das necessidades dos participantes, ajudando a selecionar aquelas prioritárias para serem atendidas””. (p. 78). Os resultados desta pesquisa são apontados demonstrando a falta de uma postura pessoal ante ao curso na maioria dos participantes (79%). Ainda assim, um grande grupo (35,9%) manifesta comprometimento e envolvimento. Os autores indicam também que na avaliação final do curso, os participantes expressam que houve a superação das expectativas iniciais. Como recurso pedagógico, utiliza-se o sociodrama, que permite detectar as violações dos Direitos Humanos na escola. Tal recurso é utilizado realizando-se a partir de uma dramatização referente a um tema que demonstre situações escolares em que estas violações ocorrem. Como afirmam os autores, este tipo de recurso “”converte-se em um espaço lúdico expressivo que ajuda a romper tensões e estimula a integração entre os participantes”” (p. 80). Há um trabalho de reflexão após a atividade que permite a tomada de consciência dos professores como “”freqüentes”” violadores dos direitos humanos. São listadas as situações referentes às atitudes dos professores, dos alunos, dos diretores e de pais de família, que demonstram a violação dos direitos, além de uma análise e interpretação destes dados. Quando há tempo, são realizados também sociodramas alternativos, com o objetivo de transformar as situações de violação, demonstrando assim quando os direitos são respeitados e contribuem para a mudança da realidade. Outra etapa da oficina refere-se ao contraste entre o perfil ideal esperado dos alunos e o perfil real destes. Este trabalho fornece pistas e orienta quanto à percepção dos professores: “”o perfil ideal expressa os valores que deve-se buscar com a ação educativa e deve-se traduzir em atitudes e comportamentos pessoais e grupais dos educandos””. ( p. 86 ). Os professores foram questionados sobre como gostariam que fossem seus alunos ao terminarem o colégio e como eles realmente saem, procurando contrastar e refletir sobre a grande brecha entre as duas realidades. Os professores, ao caracterizarem o perfil ideal dos alunos, organizaram uma lista muito rica, incluindo elementos cognitivos, além da dimensão afetiva, autoestima pessoal e atitudes frente à vida. Porém, quando trata-se do perfil real, esses professores quase não se referem ao cognitivo e às dimensões anteriormente citadas são vistas de forma negativa. Ao tentar explicar a existência desta brecha entre os perfis ideal e real, os professores tendem a não reconhecer sua responsabilidade no processo e atribuem-na aos outros envolvidos na tarefa educativa (pais, meios de comunicação, estado, crise econômica). Outro elemento de reflexão seria a forma negativa como os professores vêem seus alunos e a si mesmos, perdendo de vista a projeção e a transcendência da tarefa educativa. Quanto a avaliação das oficinas, são feitos trabalhos de reflexão e expressão a cada dia, de forma voluntária. Ao final da experiência das oficinas, realizam-se avaliações escritas e anônimas, através de perguntas previamente preparadas. O texto mostra extensamente os resultados frente a cada um dos objetivos apontados inicialmente. Ao fazer algumas apreciações sobre o trabalho, os autores afirmam ter descoberto “”o potencial criativo dos professores peruanos, sua sensibilidade, sua clara consciência da necessidade de orientação, atualização e capacitação, sua disposição ao trabalho e à entrega, apesar do maltrato e das limitações que o estado e a sociedade lhes impõe ( p.103 ). Os professores reconhecem ter caído na rotina e percebem a repercussão disto na sociedade e, em contrapartida, a possibilidade de mudar sua prática, mudando também a imagem que têm de si mesmos, o que é fundamental para a educação em Direitos Humanos. Os autores, neste sentido, reafirmam o compromisso de apostar na escola como espaço fundamental para a construção da paz e da justiça no país. O texto é claro já que procura descrever uma experiência concreta na área de educação em Direitos Humanos com professores. É muito interessante, não só em relação à metodologia utilizada, como também nos dados obtidos durante as pesquisas realizadas nas oficinas. Trata-se de um texto básico para qualquer grupo que deseje desenvolver um trabalho de educação em Direitos Humanos.