SPÓSITO, M.P. Jovens e educação: novas dimensões da exclusão, In: Em Aberto – n.º 56, Brasília, Out – Dez / 1992, INEP, pp. 43 – 53

O texto levanta inicialmente as lutas em torno dos direitos sociais que marcaram a década de 70. Na área educacional estas lutas tinham duas grandes reivindicações: acesso a escola e qualidade de ensino. Compostos majoritariamente por mulheres pobres, os grupos de movimento popular em favor da escola apresentavam como característica um embate local. Em geral se lutava pela escola do bairro, não chegavam a alcançar uma organização maior, algo mais amplo e estruturado. Mesmo assim houve várias conquistas e vitórias em diversos pontos do país. Segundo o texto estas conquistas, tais como: programas de alfabetização para adultos; escolas comunitárias; pré-escolas; creches etc., além de trazerem os benefícios desejados, resultaram também em novas revelações e práticas de elementos contraditórios e de exclusão. A escola conquistada por vezes tornou-se um elemento ambíguo . Pois se por um lado era a esperança de cidadania e a possibilidade ascensão futura das crianças da comunidade, por outro lado a própria existência da escola exteriorizava toda e segregação e desigualdade sociais vividas no cotidiano. Mesmo nos bairro de periferia a distinção entre “”mais ricos”” e “”mais pobres”” revela a situação de mais incluídos e mais excluídos do ideal de vida estimado pela comunidade local. Já os anos 80 são marcados pelo aumento da violência. Então as lutas dos movimentos populares na área educacional se desenvolveram em torno das questões de segurança e policiamento da unidade escolar. Isto não foi sem razão, pesquisas indicam um grande número de invasões em estabelecimentos públicos nesta década. Por sua vez as escolas são freqüentemente mais ameaçadas do que hospitais, igrejas, clubes, associações ou outros espaços coletivos. Também não são raros os casos em que crianças, adolescentes e jovens estudantes da própria unidade escolar são os saqueadores dos equipamentos e das instalações da escola. Segundo o artigo, algumas vezes pôde-se inclusive identificar os motivos das agressões. O que mais se observou foi Aluno insatisfeitos e desmotivados pela escola e pela proibição do uso do espaço escolar como recreação aos finais de semanas. A questão da violência na escola atingiu sua maior gravidade no final dos anos 80, com problemas tais como: briga entre gangs que incluíam os próprio alunos; grupos de matadores que passam a agir ostensivamente, não respeitando nem o espaço escolar; e até aparatos policiais ligados a comerciantes do bairro que violentam e ameaçam os jovens freqüentadores da escola. A ameaça de morte não é mais exclusividade de menores de rua, mais também de crianças, adolescentes e jovens que estão matriculados e mantêm um vínculo direto e regular com a escola. A escola assiste de perto todo este processo de exclusão que chega até na eliminação física do seus alunos. A escola vê a morte. Talvez a segurança tenha sido, e talvez ainda seja, a maior preocupação e a única a mobilizar tão veementemente alunos, professores, funcionários, direção e comunidade local. Indica-se a violência como resultados das injustiças e desigualdades sociais. No Brasil toda a problemática de exclusão e injustiça não resultaram em movimentos e reação popular organizada, mas refletiu muito mais em apatia, por um lado, e explosões violentas, por outro extremo. A segunda parte do texto, trata-se de caracterizar o que vem a ser juventude, o sobre qual especificamente o artigo está argumentando. Procura-se retratar a exclusão e a violência na vida dos jovens oriundo da classe trabalhadora. Segundo o texto, a juventude é um período da vida marcado pela “liminariedade”. O jovem vive no limite entre um código de regras do mundo adulto e suas referências ainda sempre presente do mundo de criança e do adolescente. Há uma fronteira entre a dependência do grupo familiar ou a conquista da autonomia através da precoce inserção no mundo do trabalho. No Brasil, apesar dos números indicarem para um crescente envelhecimento da população somos um país majoritariamente jovem, fato que se repercute na população economicamente ativa. O índice chega ser alarmante. Nas famílias pobres da região metropolitana de São Paulo 40% dos menores entre 10 e 17 anos estão inseridos no mercado de trabalho. Os jovens desempenham as piores e mais mau remuneradas funções. Temos a difusão do ideal de consumo de classe média junto dos jovens de classes populares como uma alavanca a mais que empurra o jovem para o mercado de trabalho e consumo. Jovens pobres deixam a escola para trabalharem no desejo de participar deste consumo. É óbvio que existe também a própria situação financeira deficiente e outras circunstâncias que exigem novas respostas da juventude, como por exemplo a constituição de um nova família. Para estes jovens a busca da escolaridade se torna distante e o antigo projeto de ter na escola a superação das precárias condições de vida se acaba. Ao final o texto indica alguns exemplos concretos de como a escola pode se apresentar como referência para jovens das classes operárias e se tornar num caminho que transcenda a exclusão. O texto apresenta uma experiência na rede municipal de São Paulo no ano 1992. Trata-se de um projeto que promovia a música RAP. Organizado por movimentos negros e setores municipais da área educacional, este projeto valorizou a música e a dança, sabendo que estes se constituem num ambiente privilegiado para o encontro e a expressão dos jovens. O RAP recupera a cultura negra e suas letras sempre trazem temas como violência, racismo, juventude etc. As músicas cantam a vida difícil e as alegrias da comunidade local. O projeto promoveu os “”rappers”” de cada escola e chegou a organizar um encontro a nível municipal. Infelizmente o projeto foi desestruturado após o novo cenário político com o resultado das eleições de 1992. O texto indica esta experiência como uma maneira de se acolher o universo cultural dos alunos, constituindo-se assim numa verdadeira alternativa de expressão para os jovens e numa superação da realidade de exclusão e violência para os jovens daquelas escolas.