Uniformes da delegação paralímpica em Paris combinam moda inclusiva, design inovador, tecnologia e diversidade.
Por Maruaia de Castro, para Cobertura Colaborativa Paris 2024
A abertura das Paralimpíadas é um dos momentos mais emocionantes no mundo dos esportes, celebrando a diversidade e a inclusão.
Quando a delegação brasileira desfilou com todo seu carisma e alegria, me fez lembrar dos versos de Tim Maia: “Ver na vida algum motivo para sonhar. Ter um sonho todo azul, azul da cor do mar.” Além do uniforme de abertura, dentre as peças mais almejadas com certeza é a jaqueta de pódio em amarelo com detalhes verdes. A coleção inclui jaqueta de pódio, moletom, camisetas, camisa polo, regata, bermuda, calça, legging, tênis, mochila, meia, manguito e boné.
Conforme as informações cedidas pelo Comitê Paraolímpico Brasileiro, o uniforme utilizado pela delegação na cerimônia de abertura foi cuidadosamente pensado para aliar estilo e acessibilidade. O conjunto foi composto por um chapéu de pescador (bucket hat), dupla face nas cores verde e amarelo, uma jaqueta azul, uma camiseta branca, e uma calça ou shorts azul-marinho. Todos os itens foram confeccionados pela ASICS, priorizando o conforto e a mobilidade dos atletas.
A escolha cuidadosa dos materiais e o corte pensado para o conforto demonstram um compromisso com a dignidade e o desempenho dos paratletas. Todas as peças contam com detalhes de acessibilidade, como mochilas com alças nos puxadores, calças com zíperes na lateral da parte inferior, próximo ao tornozelo, para facilitar o uso por atletas com prótese, e etiquetas internas em braile que destacam as cores correspondentes, auxiliando na seleção das roupas. Essas inovações garantem que todos os atletas possam se sentir seguros e representados, e a participação dos próprios atletas representam o protagonismo desses atletas em relação a algo tão importante na hora das competições.
Além disso, os chinelos da Havaianas, usados durante a solenidade, possuem um cabedal feito inteiramente de materiais têxteis e acabamento acolchoado, oferecendo uma melhor experiência de uso, especialmente para pessoas com baixa ou nenhuma sensibilidade nos pés. Em uma entrevista para o Comitê Paralímpico Brasileiro, a atleta Beth Gomes, de 59 anos, que competirá nas provas de arremesso de peso e lançamento de disco na classe F53 (cadeirantes), expressou sua emoção ao dizer: “Muita emoção em poder representar toda a nação brasileira, entrar na avenida mais famosa do mundo e abrir os Jogos Paraolímpicos de Paris 2024. Até me belisquei para entender se era verdade mesmo.” A declaração de Beth Gomes ilustra o entusiasmo e a importância deste evento para os atletas paralímpicos e para o Brasil.
Esses trajes não são apenas vestimentas; eles representam o encontro entre design, tecnologia e moda inclusiva, respeitando a diversidade de corpos e valorizando cada atleta. Durante muito tempo, pensar em moda esteve quase exclusivamente ligado a corpos que representavam um padrão estético muitas vezes inatingível e às classes privilegiadas. Pessoas gordas, negras, idosas e com deficiência não se viam representadas pelas roupas e pelas marcas. No entanto, na segunda década do século XXI, o debate sobre moda inclusiva tem crescido no Brasil, com o surgimento de marcas especializadas. A moda inclusiva desenvolverá roupas que proporcionem autonomia, agilidade, diferentes tamanhos e modelagens, além de incorporar recursos tecnológicos que garantam beleza e conforto para pessoas com deficiências, valorizando seus estilos e personalidades.
No livro História Social da Moda, a pesquisadora Daniela Calanca destaca a indumentária como um fenômeno multifacetado e abrangente. Segundo ela, a moda vai além do simples vestuário, servindo como um elo entre o passado e o presente, e abrangendo discursos históricos, econômicos, etnológicos e tecnológicos. A roupa, enquanto sistema de comunicação, funciona como uma linguagem que expressa a posição do indivíduo no mundo e suas relações com ele. Assim, a indumentária não só reflete contextos culturais e sociais, mas também permite uma leitura das dinâmicas de poder e identidade ao longo do tempo. A moda, portanto, é uma rica fonte de informações sobre a evolução da sociedade e as interações humanas.
Podemos concluir que, por trás da produção dos uniformes dos atletas paralímpicos, está o protagonismo de pessoas com deficiência que enfrentam desafios diários em busca de respeito e inclusão. Esses atletas são verdadeiros exemplos de luta e determinação, demandando não apenas reconhecimento, mas também acesso a recursos fundamentais como educação, saúde e esporte. A importância da acessibilidade é crucial para garantir que todos possam participar plenamente e com autonomia. Que nossa delegação continue a brilhar e a usar com orgulho a jaqueta do pódio, trazendo muitas medalhas para o Brasil, e que sua presença nas competições sirva como um poderoso símbolo de confiança e esperança para todos.