Respostas do presidente à crise na Amazônia geram condenações de veículos da Europa e dos EUA. “Alegações abstrusas” e “atitude cara de pau” estão entre expressões usadas para se referir ao comportamento do brasileiro.
Focus Online, Alemanha – Inferno de chamas na Amazônia: incêndios destroem o pulmão verde do Brasil
Em todo o mundo, as redes sociais estão cheias de imagens da Floresta Amazônica em chamas. No mundo real, nuvens de fumaça atingem até cidades do sul do Brasil, como São Paulo, onde na segunda-feira o céu escureceu por um curto período. Esse é um novo desastre de relações públicas para o Brasil depois que o instituto de pesquisa estatal Inpe relatou um aumento de 278% no desmatamento na Amazônia em julho, comparado com julho de 2018.
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Enquanto isso, o governo dificulta os controles. Por exemplo, há algumas semanas Bolsonaro proibiu a agência de proteção ambiental do Ibama de destruir veículos apreendidos de criminosos ambientais, embora isso seja permitido por lei. Atualmente, o Ibama está quase paralisado. Não só seu orçamento foi reduzido. Também está paralisado o Fundo Amazônia, financiado por Alemanha e Noruega, que cofinanciava os controles do Ibama.
Bolsonaro está bloqueando o fundo porque a participação de ONGs não o agrada. Ele suspeita de uma conspiração para tirar a Amazônia do Brasil.
N-TV, Alemanha – O pulmão verde queima, Bolsonaro zomba
Na Floresta Amazônica, há incêndios como nunca. A fumaça escurece o céu do Brasil a milhares de quilômetros de distância. O presidente Bolsonaro se refugia em alegações abstrusas. Peru e Bolívia declaram estado de emergência.
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Bolsonaro havia inicialmente desmentido os números do instituto estatal Inpe sobre o desmatamento, apresentou-os como mentiras e substituiu o diretor do instituto, um renomado cientista, por um oficial da Força Aérea. Mas a agência espacial americana Nasa também registrou dois terços a mais de incêndios do que no mesmo período do ano passado. Há também, sobre isso, um mapa que pode ser visto por todos. Ele mostra diariamente focos de incêndio e sublinha em cores assustadoras as concentrações de fogo das últimas duas décadas. A metade dos incêndios na América do Sul foi registrada pela Nasa na Bacia Amazônica.
Bolsonaro não nega mais, mas justifica o recorde assustador com uma mistura de vitimização e acusações: “Fui chamado de capitão motosserra. Agora estou sendo acusado de tocar fogo na Amazônia. Nero! É o Nero tocando fogo na Amazônia. É época de queimada por lá”. De fato, continua sendo comum que fazendeiros sul-americanos desmatem usando queimadas durante a estação seca, mas no Brasil atualmente cerca de 80% delas são ilegais. Bolsonaro também acusou, entre outros, os ambientalistas de terem colocado fogo na floresta, apenas para prejudicá-lo. “Esse pessoal está sentindo falta do dinheiro.” Bolsonaro encurtou o financiamento de ONGs. Prova, ele não apresentou nenhuma.
Para o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, os grandes incêndios na Amazônia não são um acidente, mas o âmago de sua política. Lentamente, ele está indo longe demais até mesmo para o lobby agrário.
Entre os instrumentos políticos de Bolsonaro está uma atitude que seus compatriotas costumam chamar de “cara de pau”: a descarada negação de todos os fatos que atualmente são inconvenientes. Há semanas grandes incêndios varrem a Amazônia brasileira – e a cara de pau de Bolsonaro está em plena atividade.
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A política de informação de Bolsonaro não deve ser mal entendida: o político de extrema direita não tenta aqui uma forma atrapalhada de limitação de danos. Ele não quer maquiar uma situação incômoda que sai de seu controle. Tudo indica que Bolsonaro quer mesmo que a Amazônia queime: o “desenvolvimento econômico” de partes mais amplas da Amazônia é parte integrante da política do governo de Bolsonaro, e o resultado é que as árvores estão caindo.
La Reppublica, Itália – Macron: ‘Nossa casa está queimando’. Todos contra Bolsonaro, de Guterres a Greta
O tuíte de Emmanuel Macron desafia abertamente Jair Bolsonaro, levantando sua voz sobre o assunto. De fato, a proposta francesa de colocar a Floresta Amazônica na agenda do próximo G7 em Biarritz exclui o Brasil, que não é nem membro nem convidado. Bolsonaro não aceitou bem. Isto pode ser confirmado por seus tuítes irritados, nos quais, além de reafirmar a soberania brasileira sobre a Amazônia, chama de colonialista o presidente francês.
The Guardian, Reino Unido – Líderes globais instados a desviar o Brasil do caminho do ‘suicídio’
A pressão internacional pode ser a única maneira de impedir que o governo brasileiro tome um caminho de “suicídio” em relação à Amazônia, afirma um dos cientistas mais respeitados do país, já que a maior floresta tropical do mundo continua sendo devastada por milhares de incêndios deliberados.
O grande número de incêndios – iniciados ilegalmente para limpar e preparar terras para plantações, gado e especulação imobiliária – levou o estado do Amazonas a declarar estado de emergência, criou nuvens de fumaça gigantes que se espalharam por centenas de quilômetros e provocou preocupações internacionais sobre a destruição de um depósito de carbono essencial.
“Nossa casa está queimando”, tuitou o presidente francês, Emmanuel Macron, convocando conversações de emergência sobre o assunto na cúpula do G7. Mas a resposta à crise foi mista: enquanto a Noruega e a Alemanha suspenderam doações para o Fundo Amazônia do governo brasileiro, a UE assinou recentemente um acordo comercial com a América do Sul, e o Reino Unido passou a semana focando nos negócios pós-Brexit com o Brasil.
The New York Times, EUA–Brasil enfrenta críticas mundiais pelos incêndios na Amazônia
A preocupação pelas políticas ambientais do presidente Jair Bolsonaro, que priorizou o interesse das indústrias que desejam maior acesso a terras protegidas, também colocou em perigo um acordo comercial que a União Europeia e um grupo de nações sul-americanas alcançaram em junho depois de décadas de negociações.
“Os incêndios florestais no Brasil são profundamente preocupantes”, disse a Comissão Europeia num comunicado emitido na quinta-feira. “As florestas são nossos pulmões e sistemas de suporte vital.”
Organismos governamentais como a Nasa, além de políticos e celebridades, compartilharam fotos dos incêndios desta semana, o que provocou diversas ações nas redes sociais com a hashtag #PrayForAmazon.