Grupo se manifestou contrário à postura dos pais que assinaram uma notificação extrajudicial enviada ao colégio na semana passada, que questiona a proposta pedagógica do colégio
As discussões em torno da polêmica envolvendo um grupo de 128 pais contrários aos ensinamentos de diversidade sexual e de gênero por parte do Colégio Santo Agostinho nas disciplinas de Ensino Religioso e Ciências ganhou mais um capítulo nesta quinta-feira.
Um grupo de alunos do terceiro ano do ensino médio da instituição escreveu uma carta aberta condenando a atitude de 128 pais que assinaram a notificação extrajudicial enviada ao colégio na semana passada, com questionamentos relativos aos ensinamentos sobre sexualidade e ideologia de gênero.
Na carta, que circula nas redes sociais, os alunos enfatizam que “a discussão relacionada à sexualidade e à identidade de gênero é fundamental na desconstrução dos incontáveis tabus presentes na vida adolescente e, principalmente, na aceitação tanto própria quanto externa quando se tratando da homossexualidade, bissexualidade e transexualidade. A tentativa de impedimento das exposições acerca da realidade social baseada na discordância quanto à abordagem aproxima-se até mesmo da censura.”
Favoráveis à postura do colégio, os alunos manifestaram apoio aos docentes da instituição e questionaram a atitude dos pais: “Com o que os senhores estão realmente preocupados? Com a vontade de manter seus filhos isolados de tudo aquilo que diverge do que lhes foi ensinado ou com o fornecimento de ensinamentos extremamente relacionados à convivência em comunidade e respeito ao diferente?”
Pais se reúnem para debater o assunto
O grupo de pais que assinaram a notificação extrajudicial vai se reunir nesta quinta-feira em um hotel em Nova Lima, na Grande BH. O intuito da reunião, segundo informado pelos organizadores, é de prestar mais informações sobre as discussões e questionamentos a cerca dos ensinos de diversidade sexual e de gênero pelo Colégio Santo Agostinho.
Os pais que ainda não assinaram e que desconhecem a situação, também foram convidados a participar da reunião. O grupo também se mobiliza pelas redes sociais. Uma página intitulada “Pais que educam” foi criada no Facebook e possui as informações detalhadas da notificação enviado ao colégio. Um site também deverá ser criado em breve pelos responsáveis contrários às medidas pedagógicas adotadas pela instituição.
Leia a carta dos alunos na íntegra:
Carta aberta dos alunos Agostinianos em resposta aos senhores pais redatores e signatários da carta crítica ao ensino do Colégio Santo Agostinho
Não somos capazes de mensurar nosso espanto ao ler, há algum tempo, a carta aberta extrajudicial – posteriormente transformada em um “abaixo assinado” – redigida com o objetivo de criticar os ensinamentos do Colégio Santo Agostinho.
Há alguns dias, tomamos conhecimento desse documento, que apresentava críticas ao ensino de assuntos relativos à sexualidade, à ideologia de gênero e à igualdade de gênero. Pouco depois, buscamos tomar conhecimento dos textos aludidos na carta, de forma que averiguamos o livro de Ciências do 6º ano e o livro de contos “As mentiras que os homens contam”, de Luís Fernando Veríssimo. Ao contrário do que nos parecia ao lermos a carta, o conteúdo dos textos citados (principalmente com relação ao livro didático) nada apresentavam além daquilo inclusive defendido pela Unesco: o debate sobre educação de gênero e sexualidade é, evidentemente, essencial para uma educação mais inclusiva e de qualidade.
No que tange ao conto “O Dia da Amante”, de Luís Fernando Veríssimo, fez-se parcialmente compreensível o sentimento de indignação apresentado por pais de alunos da Instituição, já que esse texto apresenta uma abordagem muito complexa e densa para pré-adolescentes. É importante, por outro lado, ressaltar que o conto em questão não havia sido selecionado para leitura pela professora que requisitou a aquisição do livro. Diante dessa perspectiva, surge a seguinte questão: até que ponto a escolha de um livro de contos, onde os textos que deveriam ser lidos foram selecionados, realmente torna-se uma afronta à autonomia parental na escolha dos ensinamentos fornecidos a seus filhos?
Em relação ao livro de Ciências, as críticas dos senhores pais são pueris e não merecem qualquer crédito. Nesse livro didático, a orientação sexual, a sexualidade, a identidade de gênero e o sexo biológico são abordados de maneira inteiramente coerente com a mentalidade de um aluno do Ensino Fundamental II, a partir de textos que exaltam a tolerância e a diversidade. O ensino ao respeito às diferenças é um dos principais pilares que regem a educação tanto Agostiniana quanto de inúmeros colégios que seguem a doutrina católica, tendo em vista a importância da família e da escola para a formação moral do aluno.
Frente aos questionamentos feitos pelos pais, portanto, nós, alunos do Colégio Santo Agostinho de Belo Horizonte concluímos que a discussão relacionada à sexualidade e à identidade de gênero é fundamental na desconstrução dos incontáveis tabus presentes na vida adolescente e, principalmente, na aceitação tanto própria quanto externa quando se tratando da homossexualidade, bissexualidade e transexualidade. A tentativa de impedimento das exposições acerca da realidade social baseada na discordância quanto à abordagem aproxima-se até mesmo da censura.
Além disso, fica nosso apoio e agradecimento a todos aqueles professores do Colégio Santo Agostinho que, preocupados com a formação de nosso caráter além de nosso intelecto, nos possibilitou cruciais reflexões responsáveis por nosso crescimento e amadurecimento como seres humanos altruístas.
Aos pais, fica a reflexão: com o que os senhores estão realmente preocupados? Com a vontade de manter seus filhos isolados de tudo aquilo que diverge do que lhes foi ensinado ou com o fornecimento de ensinamentos extremamente relacionados à convivência em comunidade e respeito ao diferente?
Com o tempo, vocês descobrirão, como nós, que o Colégio Santo Agostinho e seu corpo docente sempre estarão disponíveis para ajudar todos os que a eles recorrerem em busca de evolução pessoal.
Alunos da Terceira Série do Ensino Médio do Colégio Santo Agostinho- Unidade Belo Horizonte
* Sob supervisão da subeditora Jociane Morais