Levantamentos realizados em 2018 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que os idosos devem representar 25,5% da população brasileira até 2060. Hoje, o Brasil tem 29,9 milhões de idosos, de acordo com informações disponíveis no site World Health Organization (WHO).
Precisamos, o quanto antes, nos preparar para essa mudança demográfica. Realidade esta que nos deixa instigados, embora a pergunta que mais nos preocupa no momento é: como estão vivendo os nossos idosos em tempos de pandemia?
Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China, mais de 80% da população vai contrair a Covid-19, apresentando sintomas leves. À medida que a idade avança, o número de infectados sobe para 8% entre pacientes de 70 a 79 anos, e a partir de 80 anos, esse índice atinge 15%. Quando acometidos da Covid-19, enfrentam o seu maior desafio, quando há o estrangulamento da rede de saúde: a prioridade no atendimento. Esse tem sido o protocolo, quando os hospitais atingem a sua capacidade de atendimento, os idosos são preteridos.
No tocante ao abuso de idosos, que já está sendo considerado um importante problema de saúde pública, em 2017, foi realizado estudo a partir de informações de 52 estudos em 28 países, dentre os quais 12 países de baixa e média renda, estimou-se que, no último ano, 15,7% das pessoas com 60 anos ou mais foram submetidas a alguma forma de violência.
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a violência contra a pessoa idosa é um ato único e repetido, ou a falta de ação apropriada, ocorrendo em qualquer relacionamento no qual exista uma expectativa de confiança, que cause danos ou sofrimento à pessoa idosa.
Um canal específico para recebimento de denúncia no caso de violência contra a pessoa idosa é o Disque 100. Trata-se de serviço oferecido pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), para recebimento de denúncia, a qual pode ser feita de forma anônima.
O Disque 100 (Disque Direitos Humanos) recebeu, somente no ano de 2018, exatos 37.454 denúncias de violações contra a pessoa idosa. Os números representam um aumento de 13% em relação ao ano anterior (2019).
Com o advento da pandemia do COVID-19, esse número vem aumentando, e o principal motivo é justamente o isolamento social, onde o agressor, na maioria das vezes, é morador da mesma residência que a pessoa idosa.
Segundo dados do próprio Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, o balanço o ano de 2018 informa que 52,9% dos casos de violações contra pessoas idosas foram cometidos pelos filhos, seguidos de netos (com 7,8%). As pessoas mais violadas são mulheres com 62,6% dos casos e homens com 32%, sendo eles da faixa etária de 71 a 80 anos com 33% e 61 a 70 anos com 29%. Das vítimas 41,5% foram declarados brancos, pardos 26,6%, pretos 9,9%, amarelos com 0,7% e indígenas 0,4%. Sendo a casa da vítima o local com maior evidência de violação, 85,6%.
Pelo disque 100, em 2019 as denúncias de violência contra a pessoa idosa ficaram em 2º lugar em números de ligações. De 30%, foi o aumento dessas denúncias em relação ao ano de 2018.
Os tipos de violências mais comuns são: a física, psicológica, financeira, a negligência, o abandono. Em relação aos tipos mais denunciados tem-se o ranking dos quatro primeiros, no Brasil: a negligência (41%), violência psicológica (24%) como humilhação, hostilização e xingamentos, violência financeira (20%) que envolve, por exemplo, retenção de salário e destruição de bens e a violência física (12%). Geralmente os maiores agressores são familiares próximos como filhos e netos e 90% das vezes a violência é praticada dento da casa da vítima, no caso, a pessoa idosa.
Outro dado relevante é que mais de 14 mil vítimas possuem algum tipo de deficiência. sendo 41,6% tem alguma deficiência física e 37,6% deficiência mental, seguidos de deficiência visual com 11,5% e deficiências intelectual e auditiva, com 4,6% e 4,4%, respectivamente (dados do Disque 100).
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, publicou em maio passado um relatório sobre o impacto que a pandemia de Covid-19 está causando em pessoas idosas. Segundo o relatório, “a pandemia está colocando as pessoas mais velhas em maior risco de pobreza, discriminação e isolamento”. O secretário-geral aponta ainda que são precisos mais apoio social e esforços mais inteligentes para chegar às pessoas mais velhas usando tecnologia digital. Segundo Guterres, “isso é vital para que possam enfrentar o grande sofrimento e isolamento criado por bloqueios e outras restrições”.
“Denunciar é preciso. Não podemos nos omitir diante de uma realidade tão cruel, e que tem se tornado tão cotidiana. É obrigação de todos nós proteger nossos idosos. A conscientização de que a violência contra a pessoa idosa é uma realidade mais frequente do que pensamos. Um país que não valoriza àqueles que ajudaram a construir a história, nunca será um país com um futuro desenvolvido. Quando a falta de respeito virar violência. Denuncie. Disque 100”, esclarece a presidente da Comissão Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa do Conselho Federal da OAB, Deborah Cartágenes.