MAGENDZO, A Formación de profesores para una educación para la vida democrática y el respeto de los derechos humanos, In: MAGENDZO, A. (Org.) Educación en derechos humanos: apuentes para una nueva práctica, Santiago: PIIE, 1994, p. 139 -146.
Antes de apresentar propriamente o que entende e pretende com um projeto de formação de professores para a vida democrática e para o respeito aos direitos humanos, o autor profere uma palavra de ordem: é inadiável que as instituições formadoras de professores incorporem como objetivo da formação de professores a educação e a vivência na democracia e na defesa dos direitos humanos. O autor chama a atenção para o fato de que não basta uma sociedade viver e respeitar a democracia e a defesa dos direitos humanos, isto é essencial mas não é suficiente para que professores e alunos assumam esta realidade como prática de ensino e aprendizagem. É preciso um projeto definido e estruturado para formação de professores com esta perspectiva. A seguir o autor passa a descrever o que caracteriza um professor democrático e defensor da dignidade humana. Entre muitas características estão: ser autônomo intelectual e afetivamente; ser respeitoso com as diferenças; promover a participação; ser capaz de enfrentar os conflitos; ser construtor da liberdade, da justiça e da igualdade etc. Ao contrário, se um aluno teme a autoridade, não toma decisões, não assume riscos, tem medo das incertezas e está imerso numa concepção autoritária da vida, não estará se preparando para exercer um magistério democrático. Segundo o autor, formar para a democracia significa tornar-se autônomo e estar preparado para dar autonomia também aos outros. Deve-se também reconhecer que o conhecimento é um poder, e que partilhar o conhecimento de forma justa e sem sectarismo é uma propriedade do trabalho democrático. De acordo com o artigo, ser um professor democrático requer ainda a capacidade de reconhecer as diferenças culturais e saber adaptá-las ao currículo. É preciso saber dar espaço as distintas expectativas que surgem a partir das diferenças sociais, étnicas, de gênero e de cultura dos alunos. É importante observar que ninguém pode dar o que não recebe. O professor não poderá ensinar e educar para a participação, se ele também não é formado na participação. As instituições formadoras de professores têm uma grande possibilidade de pedir a participação dos futuros mestres. Esta participação pode se dar de maneira privilegiada na definição do currículo. “O que ensinar?” pode ser a questão mobilizadora para a participação dos licenciandos. Esta questão não é só para profissionais da educação ou professores acadêmicos. O autor acrescenta que educar para a cidadania implica ensinar a lidar com os conflitos sem negá-los, lidar com as diferenças sem buscar abafá-las ou mininizá-las. Todo conflito ou diferença deve ser trabalhado para o crescimento humano do aluno e do futuro professor. Conflitos e diferenças devem ser colocados a nível consciente para que possam ser aceitos e passem a fazer parte da vida. Em nossa cultura autoritária é comum negar a alteridade, fingir que a diferença não existe. Há que se cuidar bem desta situação para não se cair na grande contradição de ensinar democracia e viver numa instituição tão antidemocrática quanto a sociedade que criticamos. O autor sugere que as instituições criem uma disciplina que discuta democracia e direitos humanos, sem se esquecer que todas as disciplinas podem abrir espaço para este saber. Esta disciplina não pode se preocupar só com o conteúdo, mas também com uma metodologia democrática. Magendzo apresenta então alguns pontos básicos que devem ser observados para esta nova disciplina: a) o saber acerca de democracia e direitos humanos não são trabalhos só como conceitos, mas também como um novo comportamento. Deve gerar novos costumes e hábitos; b) somar ao plano intelectual, as dimensões afetiva, corporal e subjetiva da vida humana; c) não é um saber estático, mas vivo. Presente e atuante na vida pessoal e coletiva; d) é um saber conflitivo, facilmente trará aos professores e alunos tensões e problemas. Ao final o autor volta ao tema da metodologia. Segundo ele, é importante se ter uma metodologia adequada, que propicie a vivência dos valores proclamados. É preciso que o processo de ensino seja democrático, vivo, afetuoso, senão cair-se-á numa grande contradição entre o que se pretende e como se aprende.