VALLVÉ, F. Diagnostico y metodologia en la enseñanza de los derechos humanos, In: Cuaderno de educación en y para los derechos humanos – vol. 2, Chile, Outubro de 1992, pp.
Na introdução deste caderno, que faz parte de uma coleção de quatro volumes, a autora vincula o dever de incorporar os direitos humanos como tema de ensino à uma problemática do tipo cultural que transcende as questões de mera política educacional. Seu propósito é apresentar aos educadores algumas situações diagnósticas em direitos humanos que possam transformar-se num aporte concreto para sua tarefa educativa. É privilegiado o enfoque centrado no estudante, por ser considerado o ator central desta tarefa formativa. Ao destacar certas situações diagnósticas em direitos humanos, a intenção é descobrir algumas das principais representações sociais que têm sido construídas pelos atores educativos em torno a esta temática. Este diagnóstico permitirá formar uma visão panorâmica das relações que eles estabelecem entre sua vida cotidiana, sua história pessoal e social e a dignidade humana. Através desses sinais se poderá focalizar as principais crenças, inquietudes, carências e conflitos a abordar. Para tanto, é necessário criar condições pedagógicas para que os alunos e professores expressem seus sentimentos e vivências, seus próprios conceitos e questionamentos, sua memória histórica, seus valores e esperanças. A primeira característica de um diagnóstico educativo em direitos humanos é o caráter holístico. Isto significa que deve-se contemplar de forma integrada as múltiplas dimensões humanas. Vale dizer, os aspectos cognitivos (o que sabem, têm estudado ou lido sobre os direitos humanos); os aspectos experienciais (quais situações cotidianas e públicas invocam direta ou indiretamente os direitos humanos); e os aspectos afetivos (o que sentem frente a esse saber e a essa experiência). O caráter participativo e democrático é a segunda característica de um diagnóstico em direitos humanos. Ou seja, deve-se criar situações que exponham os estudantes e os professores à pluralidade, à liberdade de expressão, a vivenciar a igualdade e o respeito à diversidade. Nesta perspectiva, é necessário empregar recursos metodológicos que não se refugiem somente nas linguagens verbais, senão que desenvolvam diferentes estilos de expressão, tais como, as linguagens metafóricas, corporais e artístico-plásticas. O diagnóstico em direitos humanos deve ter um caráter permanente, na medida em que está condicionado pelo contexto político cultural, assim como, pelas opiniões vinculadas aos meios de comunicação. O caráter pertinente de um diagnóstico em direitos humanos implica em que este dê conta tanto do desenvolvimento cognitivo moral dos atores educacionais, como de seu contexto político social. Segundo a autora, os objetivos a abordar na construção de um diagnóstico em direitos humanos são: a) “”indagar, reconhecer e comunicar aos estudantes as diversas representações sociais que têm sido construídas sobre a temática dos direitos humanos; b) distinguir algumas das situações centrais que os estudantes estabelecem entre sua vida pessoal e cotidiana e o dever histórico e social dos direitos humanos; c) focalizar e elaborar uma proposta de trabalho educativo problematizador, a partir das principais crenças, dúvidas, inquietudes e carências dos alunos.”” (p. 9). A seguir, ela propõe três atividades que visam um diagnóstico das aproximações dos alunos à temática dos direitos humanos. A primeira tem como guia a pergunta “”Como sonho…?””: minha escola, minha família, meu país, o futuro, etc. “”Esta situação diagnóstica, pretende que os estudantes busquem e construam coletivamente uma ponte entre seus ideais e desejos e as implicações e significados que destes se desprendem para os direitos humanos.”” (p. 11). A segunda atividade proposta é denominada “”Cartões Exploratórios””. Tem como objetivo interpelar os estudantes através de perguntas e afirmações, as quais de forma direta ou indireta sondam as percepções que eles têm construído sobre a temática dos direitos humanos. A terceira situação diagnóstica em direitos humanos chama-se “”Fórum Canção””. Ela tem o mérito de estimular a reflexão sobre a problemática dos direitos humanos, resgatando uma área cultural tão importante para os jovens como é a música. Durante a vivência dessas situações caberá ao mestre ou facilitador ser um observador do processo. Sua tarefa mais específica será como moderador, motivando e revelando algumas problemáticas referidas aos direitos humanos. Segundo a autora quando se pretende incorporar os direitos humanos ao mundo da escola deve-se considerar dois aspectos: a dimensão axiológica ou valórica comprometida com esta tarefa formativa e a dimensão metodológica, isto é, estilos pedagógicos que efetivamente possibilitem aos sujeitos explorar e integrar em suas experiências vitais, a consciência e o respeito aos direitos humanos. Nesta perspectiva, uma metodologia de ensino dos direitos humanos, deve constituir-se em uma ponte que traduza os conceitos e normas abstratas contidas nestes direitos, em procedimentos ou estratégias formativas que aproximem esta temática da escola. A autora propõe a metodologia “”Centros de Interesse””. Junto com seu caráter lúdico este estilo de ensino, contribui para animar desde a infância, atitudes e condutas de organização, responsabilidade, cooperação e compromisso com as tarefas livremente eleitas. O artigo é relevante na medida em que oferece contribuições práticas para a atividade pedagógica que se propõe a incorporar os direitos humanos como tema de ensino. Assinala que para construir uma concepção educativa fundamentada nos direitos humanos, é necessário ir transformando a escola em um espaço fértil de aprendizagem social democrático. Defende uma perspectiva integradora entre direitos humanos e educação formal, entre os aspectos cognitivos, experenciais e afetivos, entre o desenvolvimento moral dos atores educacionais e o seu contexto político-social. Constata que “”somente na medida em que o professor vive experiências significativas de respeito à sua dignidade e às suas liberdades fundamentais é possível que adquira a convicção e o entusiasmo por transferir pedagogicamente este saber em sua comunidade educativa.”” (p. 2). Afirma que é fundamental para consciência e vivência dos direitos humanos na escola um trabalho com todos os atores educacionais (direção, professores e alunos). Oferece subsídios para o diagnóstico das representações sociais construídas pelos atores educacionais em torno dos direitos humanos e apresenta uma proposta metodológica concreta para o ensino dos direitos humanos na escola.