Animais ficam com os membros feridos devido ao acúmulo de neve úmida e enfrentam dificuldades para andar

Um estudo recente alerta para um fenômeno até então inédito: as mudanças climáticas passaram a causar graves ferimentos nas patas de ursos-polares na Groenlândia. De acordo com a pesquisa, publicada em nesta semana na revista Ecology, blocos de gelo do tamanho de pratos de jantar têm se formado nas patas desses animais, causam feridas profundas nos coxins plantares, e comprometem até mesmo a capacidade do animal de caminhar.

“Eu nunca tinha visto isso antes. Os dois ursos mais afetados não conseguiam correr — eles sequer conseguiam andar com facilidade”, afirmou Kristin Laidre, ecologista marinha e professora associada da Universidade de Washington, à Live Science.

Imagem mostra as patas traseiras “congeladas” de um urso polar temporariamente sedado para pesquisa no leste da Groenlândia em 2022 — Foto: Kristin Laidre/University of Washington

A investigação revelou que os blocos de gelo se formam devido à neve úmida, que se adere aos coxins dos ursos e congela, transformando-se em estruturas rígidas de até 30 centímetros.

“Os pedaços de gelo não estavam apenas presos ao pelo”, detalhou Laidre, “eles estavam selados na pele, e ao tocar os pés era evidente que os ursos sentiam dor”.

A análise, realizada entre 2012 e 2022 nas regiões de East Greenland e no Kane Basin — área entre a Groenlândia e a Ilha Ellesmere, no norte do Canadá — encontrou ferimentos em aproximadamente um em cada quatro ursos. Os casos mais graves ocorreram em machos adultos, que percorrem maiores distâncias e têm um peso significativamente maior do que fêmeas e filhotes, fatores que agravam os danos nas patas.

O estudo relaciona o aumento das temperaturas no Ártico com o fenômeno. De acordo com os pesquisadores, o aquecimento intensifica os períodos de chuva e promove ciclos de degelo e recongelamento, que criam camadas de gelo frágil nas quais os ursos se machucam ao pisar. Nos meses mais quentes, a neve derrete e volta a congelar, formando uma crosta dura que os ursos rompem ao caminhar, o que leva a cortes e lesões profundas.

Os autores da pesquisa também consultaram caçadores indígenas de Kane Basin, no Canadá, que já haviam notado as lesões nas patas dos ursos. Os caçadores associaram os ferimentos ao aumento de deslocamento dos animais durante a época de acasalamento e caça, mas também apontaram que esse problema é recente.

Eles observaram ainda que as mesmas condições de neve úmida têm prejudicado os cães de trenó, sendo necessário aparar os pelos entre os coxins dos animais para evitar a formação de gelo e o surgimento de claudicação.

John Whiteman, professor assistente de biologia na Old Dominion University e cientista-chefe da Polar Bears International, contou à Live Science nunca ter visto lesões desse tipo em ursos-polares.

“Esse relato é definitivamente surpreendente. Se as condições que favorecem a formação de blocos de gelo se tornarem comuns em uma área maior, mais ursos estarão em risco de danos nas patas”, declarou Whiteman.

Fonte: https://oglobo.globo.com/mundo/clima-e-ciencia/noticia/2024/10/27/estudo-aponta-que-mudancas-climaticas-provocam-congelamento-das-patas-de-ursos-polares-da-groenlandia-entenda.ghtml