Juliana Passos
Novas formas de mobilização e ativismo, além de pautas feministas, estão sendo incorporadas aos debates em prol dos direitos das trabalhadoras domésticas. Foi o que observou ThaysMonticelli durante sua pesquisa de Pós-Doutorado, sob a supervisão da professora BilaSorj. A pesquisadora é vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia, do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS/UFRJ) e tem o trabalho doméstico como tema de estudo desde o mestrado.
Durante a pandemia, 1,2 milhão de trabalhadores domésticos foi demitido, de acordo com dados de Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PNAD/IBGE) de 2020. Mais de 20%, entre aquelas que não foram demitidas, tiveram redução em suas rendas. A proposta da pesquisa, para a qual Thays foi contemplada com uma bolsa de Pós-Doutorado Nota 10 da FAPERJ, é então identificar as formas de mobilização para apoiar essas trabalhadoras.

Na etapa inicial da pesquisa, a cientista social analisou as postagens realizadas nas redes sociais pelas ONGs Criola e Themis – Gênero, Justiça e Direitos Humanos, e identificou um trabalho focado em ações emergenciais, principalmente na distribuição de cestas básicas. A necessidade da existência e manutenção de um auxílio emergencial também esteve bastante presente nas postagens. No entender da pesquisadora, a mobilização pelo auxílio insere as pautas feministas em contextos mais amplos. “Quando você pensa em auxílio emergencial não é apenas uma questão de gênero; é para uma população como um todo, apesar de você saber que uma população enorme de mulheres são chefes de família. Então são políticas mais amplas, que não tem um enfoque totalmente direcionado a gênero, mas, sobretudo, a classe e gênero”, avalia.

De acordo com Thays, outra questão bastante levantada nas postagens foi a não inclusão do trabalho doméstico como essencial na pandemia. Ela lembra de dois casos marcantes que reforçaram essa pauta. O primeiro foi o da primeira morte registrada no Rio de Janeiro, em março, que vitimou uma trabalhadora doméstica de 63 anos após o retorno de seus empregadores de uma viagem à Itália durante o Carnaval. Em maio, o filho da ex-empregada doméstica Mirtes Renata de Souza caiu do nono andar do prédio em que ela trabalhava. Sem creche, Renata precisou levar o filho de cinco anos para o trabalho e quando retornou ao andar, após saída para levar o cachorro dos patrões para passear, soube da tragédia. A pesquisadora diz que o ocorrido transformou Mirtes em ativista contra o racismo. Também foi identificado o movimento dos filhos de trabalhadoras domésticas que pediam a manutenção do salário no período.
Em um projeto complementar ao que realiza atualmente, Thays apresentou trabalho em congresso em que entrevistou empregadoras para entender as dinâmicas do trabalho doméstico na pandemia, algo similar ao que fizera em sua pesquisa de doutorado. Ao contrário do que ela esperava, não houve uma maior percepção sobre a desigualdades sociais, nem valorização deste tipo de trabalho, ao contrário do que foi visto em relação aos professores e a importância das escolas. “O que aconteceu foi que essas mulheres empregadoras estavam sobrecarregadas em casa, não conseguiram dividir as tarefas com os maridos, e estavam cansadas e exaustas. E quando tiveram a oportunidade, recontrataram. O que essas mulheres elencaram como mais importante foi a escola”, conta.
Fonte: http://www.faperj.br/?id=4179.2.3