Secretaria de Direitos Humanos registrou 39 em dois meses na Baixada Fluminense. Titular da pasta afirmou, no entanto, que número de casos deve ser maior que o registrado oficialmente.
Por Bruno Albernaz, do G1- 06/10/2017

A crescente onda de ataques a terreiros de candomblé e umbanda registrados no Rio de Janeiro, principalmente na Baixada Fluminense, representa um retrocesso da sociedade ao período escravocrata do país. Foi o que afirmou uma das representantes de religiões de matiz africana que participaram, na manhã desta quinta-feira (5), de uma audiência pública sobre o tema na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

“Somos alvo dos ataques por causa do racismo. Intolerância, eu não digo, mas ao desrespeito racismo religioso. Nós estamos retrocedendo. Nossos ancestrais já passaram por isso décadas atrás. Eles lutaram tanto, sofreram tanto, para que isso não se repetisse, mas infelizmente está se repetindo”, lamentou a Mãe Mariazinha de Oxum, representante Ile Omolu e Oxum.

Além de representantes religiosos, a audiência pública contou com a participação de representantes do Ministério Público, Defensoria Pública e Polícia Civil. O objetivo da Casa Legislativa ao promover o debate público foi traçar um retrato real dos ataques a terreiros de candomblé e umbanda por traficantes.
De acordo com a Secretaria de estado dos Direitos humanos, foram registradas 39 denúncias de intolerância religiosas nos últimos dois meses no estado. Destes casos, 12 aconteceram em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Os números, porém, podem não corresponder à realidade, conforme afirmou o secretário de Direitos Humanos Átila Alexandre Nunes.
“Em reuniões fechadas, tivemos várias informações de que os números de terreiros atacados são muito maiores que os números apresentados e oficializados. As vítimas geralmente se negam a fazer o registro por medo. Elas não se sentem seguras suficiente para procurar a delegacia mais próxima para fazer esse registro”, disse o secretário.
Mãe Mariazinha de Oxum se disse consternada com a violência aplicada nos ataques ocorridos na Baixada Fluminense. “Várias casas foram invadidas. Destruíram casas, quebraram, colocaram fogo, e nós todos perdemos com isso. Só em Nova Iguaçu foram 8 casas afetadas. Isso só nos dois últimos meses”, lamentou.
A religiosa cobrou das autoridades públicas uma resposta a estes ataques, no sentido de impedir que continuem se repetindo. “Tem que ter uma solução. Tem que haver uma solução. É por isso que nós estamos aqui”, afirmou.
“O ponto mais importante dessa audiência pública é que os religiosos possam retratar o que de fato está acontecendo na cidade de Nova Iguaçu, e de um modo geral, na Baixada Fluminense”, afirmou o secretário de Direitos Humanos.
Fonte: Geledés