Por @EquipeGN

Abraços e beijos é terminante proibido dentro e até fora da escola, caso a criança ou adolescente esteja com o uniforme militarizado da escola Cerqueira Lima, em Jardim América. Em apenas uma semana de funcionamento, a escola demitiu arbitrariamente duas professoras de artes, porque uma tinha o cabelo de cor azul e outra na cor rosa e criou problema com o tamanho do cabelo de alunos.

 

Uma semana após ter sido inaugurada a segunda escola cívico-milita de Cariacica (ES), pais de alunos já apontam os abusos que vem sendo praticados na antiga escola Dr Afonso Schwab, que para receber verba pública para se tornar um colégio bolsonarista, se transformou na Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF-ECIM) Cívico-Militar Professor Cerqueira Lima, na Rua Santo Amaro, s/nº, em Jardim América. Além de proibir o desenvolvimento do espírito de liderança entre crianças e adolescentes, como a contestação diante de ordens absurdas, a escola sob as regras militares quer determinar até em milímetros o tamanho do corte do cabelo do estudante. O Cerqueira Lima tem 820 vagas

A exigência, fora da realidade econômica da população, já que segundo uma mãe que conseguiu retirar seu filho dessa escola e inscrever em um outro colégio no mesmo bairro, o corte de cabelo deverá ser feito a cada 15 dias. “O colégio não paga o salão”, destacou. Na mesma semana, a escola militarizada que segue os princípios do seu idealizador, o atual presidente Jair Bolsonaro (PL), quis impor regras incompatíveis com a realidade econômica e social. DE acordo com mães inconformadas, a exigência de corte de cabelo muito baixo não é mais permitida no Estado da Bahia.

O Manual de Condutas e Atitudes da EMEG-ECIM Cerqueira Lima, assinado pelo major da Força Aérea Brasileira (FAB), que assina apenas com o nome “Jaymerino” e se diz gestor dessa escola bolsonarista, traz as regras que destoa da história de contestação do bairro. No item referente ao corte de cabelo chega a ser cômica a minucia das regras, em um desenho detalhando milimetricamente o tamanho do corte de cabelo que as crianças e adolescentes devem ter. “Os alunos da Escola Cívico-Militar devem usar seus cabelos aparados curtos, por máquina ou tesoura, mantendo bem nítidos os contornos junto às orelhas e ao pescoço”, diz o manual assinado por “Jaymerino”.:

Nota de Transgressão anônima enviada pela escola militarizada aos pais para reclamar do tamanho do corte do cabelo, que na linguagem da escola é o “Item II*, tópico 19” | Imagem: Reproduçao de comunicado

Com uma criança que gosta de ter os cabelos um pouco mais comprido, a escola emitiu nesta semana mais uma “nota de transgressão”. No texto anônimo, mas com o timbre da Prefeitura de Cariacica e da logomarca do modelo bolsonarista de escola militarizadas, veio o seguinte texto: “Srs Pais ou Responsáveis. Solicitamos que o responsável se atente ao que consta do Manual do Aluno, visto que o mesmo foi divulgado no grupo de responsáveis e tema central da reunião de pais dos dias 07 e 08 de abril de 2022. Segue abaixo as transgressões do aluno. Transgressão: Item II, tópico 19 (documento anônimo, sem assinatura) ”. Ou seja, apenas porque o cabelo estava fora do corte milimetricamente imaginado pelos gestores da escola militarizada.

O tamanho do cabelo é uma obsessão da direção da escola, que detalha em manual milimetricamente como deve ser o corte

Abraço e beijo é uma transgressão disciplinar média

Logo no início o manual estabelece que as aulas são iniciadas no turno matutino às 6h50 e no vespertino às 12h50. A entrada é chamada de “formatura” e é quando as crianças e adolescentes fazem o hasteamento da bandeira, é feita averiguação de faltas, verificação do uniforme e desenvolvimento do Projeto Valores. O traje para os funcionários participarem das Formaturas Gerais será o esporte e para os alunos será o uniforme esportivo. O turno matutino é iniciado às 6:50h e o vespertino às 12:50. No Manual consta que é terminante proibido abraço e beijo dentro e fora da escola, caso o aluno esteja com o uniforme.

Se provocar barulho, chegar atraso ou dobrar o short e camiseta é uma falta leve e a escola fará uma notificação aos pais. Mas, se o aluno fizer uma “manifestação políticas partidárias”, a escola bolsonarista considera isso como sendo uma falta grave. Mas, se a criança ou adolescente for servil e fizer elogios perante a turma, vai receber recompensas, como o recebimento do Certificado Aluno Destaque. “A apresentação pessoal e o uso de uniformes denotam o cuidado com a higiene, boa aparência, sociabilidade, postura e marcialidade”, diz o Manuel sobre o uniforme

Brincos? Nem pensar

Entre outro item que tolhe o desejo do jovem de fazer o que quer com seu corpo, sob aprovação dos pais, não é permitido. O Manual estabelece que para os alunos:” não será permitido o uso de brincos, poderão utilizar somente um cordão (prateado ou dourado), desde que o mesmo se mantenha de forma não aparente”. Para as alunas, é “permitido o uso de brincos pequenos e discretos e não será permitido piercings”. E ainda é vedado a realização de desenho na sobrancelha ou no couro cabeludo e o uso de corte de cabelo tipo “moicano” ou “topete”.

O uso de aparelhos celulares é proibido. Nos procedimentos diversos, a escola determina que os comunicados anônimos que são enviados aos pais, devem ser devolvidos. O que acontece lá dentro não pode ser registrado por “gravadores, câmaras fotográficas ou equipamentos similares, salvo se solicitado previamente pelo professor”, estabelece a norma do Cerqueira Lima. Por fim, a escola diz que os casos omissos serão resolvidos em atendimento ao recomendado na Diretriz do Programa das Escolas Cívico-Militares – PECIM, no Regimento Comum das Escolas da Rede Municipal de Ensino do Município de Cariacica- ES, no Estatuto da Criança e Adolescente – ECA e demais legislações aplicáveis no âmbito do Ministério da Educação.

Não há explicações da troca-troca de nome da escola

A inauguração dessa escola na Rua Santo Amaro exigiu uma estranha operação de troca-troca de nomes. O atual colégio bolsonarista com o nome de EMEF Cerqueira Lima é tradicional e ficava na Avenida Brasil, no mesmo bairro. E foi reservada a importância de R$ 2,4 milhões para as obras de transformação em uma escola militarizada. Mas, no meio do caminho, e com o dinheiro destinado ao nome Cerqueira Lima, a Prefeitura de Cariacica decidiu fazer a tal escola na Rua Santo Amaro, onde funcionava a EMEF Dr Afonso Schwab, mas como o dinheiro estava timbrado para o nome Cerqueira Lima, a solução encontrada foi mudar o nome de Dr Afonso Schwab parta Cerqueira Lima.

Com isso a homenagem ao médico Afonso Schwab foi retirada. E a escola da Avenida Brasil que tinha o nome de Cerqueira Lima ganhou o nome de EMF Pautila Xavier, que era o nome de outra EMEF que funcionava na Rua Amazonas, também no mesmo bairro. Com isso, a EMEF Pautila perdeu o nome e a função de escola, apesar de ser uma edificação de dois pavimentos e vai virar um almoxarifado da Secretaria Municipal de Educação. Os moradores reclamam que o bairro tem carência de uma creche e o desperdício dessa escola fechada provoca prejuízos aos pais de crianças.

Fonte: https://grafittinews.com.br/em-uma-semana-de-funcionamento-escola-militarizada-de-cariacica-gera-problemas-com-pais-e-professores/