Em decisão histórica, A American Psychology Association (APA) pede desculpas por contribuições de longa data ao racismo sistêmico, ao mesmo tempo em que reconhece as falhas, aceita a responsabilidade, promete mudanças para a psicologia.

A decisão veio a público dia 29 de outubro de 2021, após reunião do Conselho de Representantes da associação, o qual reconhece que

“a APA falhou em seu papel de liderar a disciplina da psicologia, foi cúmplice em contribuir para as desigualdades sistêmicas e feriu muitos por meio do racismo, discriminação racial e difamação de comunidades de cor, deixando assim sua missão de beneficiar a sociedade e melhorar vidas.”

A resolução, que foi aprovada por unanimidade, reconhece que o corpo governante da APA deveria ter se desculpado com as pessoas de cor antes de hoje. A APA, e muitos na psicologia, há muito consideram esse tipo de pedido de desculpas, mas não assumem a responsabilidade.

O pedido de desculpas credita um amplo corte transversal de membros da APA, incluindo líderes eleit@s e nomead@s, por trazer o pedido de desculpas às comunidades negras e indígenas. O esforço incluiu solicitar comentários públicos e conduzir sessões de escuta e pesquisas. O trabalho foi liderado pela Força-Tarefa APA sobre Estratégias para Erradicar o Racismo, Discriminação e Ódio e seu Subcomitê Consultivo de Remissão de cinco membros, composto por eminentes psicólog@s que foram escolhid@s por seu conhecimento e experiência.

Na mesma reunião, o Conselho de Representantes adotou duas resoluções adicionais, uma delineando o papel da APA e da psicologia no desmantelamento do racismo sistêmico nos Estados Unidos e a outra se comprometendo a trabalhar para promover a equidade em saúde na psicologia. A primeira orienta a direção da APA a desenvolver um plano de longo prazo para priorizar, operacionalizar e garantir a responsabilidade pelo cumprimento dos objetivos identificados na resolução. Deve ser apresentado ao Conselho até agosto de 2022.

Consultad@s sobre a notícia histórica, @s coordenador@s do GT Psicologia e Relações Étnico-Raciais, Abrahão de Oliveira Santos (UFF) e Lia Vainer Schucman (UFSC), argumentam que a APA entende que não basta um pedido de desculpas, mas é necessário desenvolver ações para avaliar os danos causados nesse processo histórico, inclusive cronologicamente falando, a fim de informar ações de reparação, na direção de que a psicologia possa trabalhar para “eliminar as raízes racistas e coloniais, encarnar os princípios da equidade, diversidade e inclusão e se tornar uma disciplina anti-racista ativa.

Nas palavras d@s pesquisador@s e membros da Anpepp, a medida fortalece, no Brasil, a discussão da inclusão de epistemes no seio dos espaços de formação e instituições de pesquisa, e a disposição para a construção de epistemologias, metodologias plurais; dá força para caminhos de pesquisa voltados para a produção de conceitos a partir de matrizes de saber nao ocidentais, pesquisas aterradas baseadas nas epistemes locais dos protagonistas históricos coletivos de negros e indígenas, e intervenções orientadas para fortalecer outros grupos sociais que, até o momento, foram alvos dos sistemas de opressão, como os grupos baseados na religião ou culto às forças da natureza e dos antepassados, os baseados no sexo, classe, orientação sexual e diversidade e identidade de gênero, e o grupo das pessoas com deficiência.

“Em suma, compreendemos que o pedido de desculpas da APA enseja a oportunidade para a urgência de os grupos e instituições de pesquisa em psicologia incorporarem o movimento antirracista como horizonte ética, político, técnico e espiritual, trazendo em si o que é o constituinte plural da sociedade brasileira e da subjetivação ou formação da pessoa”, finalizam @s professor@s e estudios@s do tema.

 

Fonte: https://www.anpepp.org.br/boletimartigo/view?ID_BOLETIM=27&ID_BOLETIM_ARTIGO=289