Gavis Moreno, mulher, afrodescendente, ativista pelos direitos humanos, Latino Americana, foi assassinada após receber doze tiros em 28 de março de 2018 em Guayaquil, Equador.

Doze tiros que nos doem a todos, que nos cala profundo em nossos corpos, corpos sentidos pelas desigualdades e as violências que vivemos na nossa região, doze tiros símbolo das pobrezas que atravessam os nossos territórios.

Cinco deles por ser mulher, mulher que ganha um salário pelo menos 23 % menor do que os homens, mulher que é pouco representada nos nossos congressos, mulher que não é presidente em nenhum país da América Latina, mulher que quase não se encontra tomando decisões em empresas nem outros cargos hierárquicos, mulher que sofre assédio no trabalho, mulher que trabalha fora e dentro do lar, mulher que cuida de crianças, de doentes, que cozinha, limpa, lava e ordena porque isso é “amor”, mulher espancada, mulher vítima de múltiplas violências, mulher representada em número crescente de feminicídios, mulher que é violada a cada oito horas, mulher que é vendida e comprada para ser explorada sexualmente, mulher desigual.

Quatro tiros por ser preta, afrodescendente, afroequatoriana. Negros que na América Latina representam metade dos mais pobres, negros os menos presentes em cargos políticos, negros despojados de políticas por serem invisibilizados, negros com menores oportunidades educacionais e trabalhistas, negros cujas desigualdades são produto do racismo ainda presente. Mulher, negra, mulheres negras que sofrem a dimensão étnica / racial sobre a pobreza e a exclusão de forma mais profunda. Mulher, negra, desigual.

Mais tiros por ser ativista de direitos humanos, lutadora, lutadores que todos os dias enfrentam riscos em nossa região, ativistas que suas demandas evidenciam violências que querem ser abafadas, ativistas da região que registra o maior número de defensores de direitos humanos assassinados no país. Ao longo dos últimos anos, ativistas que veem violadas as suas privacidades e seus direitos digitais, ativistas criminalizados, ativistas que atravessam processos legais muitas vezes infundados, ativistas famosos por grandes meios de comunicação. Defensores, defensoras das mulheres. Mulher, negra, ativista, desigual.

E mais um tiro por ser Latina Americana, mulher da região mais desigual do mundo… Mas de uma região onde encontramos gritos cada vez mais ressonantes de luta, vozes em alto e trabalho desde as bases por redistribuir o poder, uma região com lideranças emergentes que procuram desenvolver sociedades mais inclusivas e mais diversas. Região onde mulheres como Gavis, a partir dos seus territórios, lutam para dar respostas às desigualdades que as atravessam. Por isso hoje mais do que nunca devemos continuar lutando, por Gavis, pela Marielle, e pelos 173 defensores dos direitos humanos que foram assassinados na América Latina em 2017, por aqueles dos que não se falam, e pelos milhares que ainda estamos de pé.

Não conhecemos a Gavis pessoalmente, mas estamos ligados ao coletivo de onde ela atuava, parceira do movimento de mulheres de asfalto, cuja diretoria faz parte da rede de inovação política. Conhecemos a incansável luta que levam a cabo as mulheres de asfalto pelo empoderamento em território equatoriano, desde as bases e articulando redes em todo o país, construindo novas narrativas políticas mais inclusivas, sem se cansar de lutar contra as violências e as desigualdades que sofrem as mulheres. É por isso que estes 12 tiros nos doem a cada um dos membros da rede de inovação democrática e abraçamos as companheiras neste triste momento e as apoiando na sua luta por justiça para Gavis.

MGU

Fonte: Red de Innovación Politica